12 capas, 12 mulheres, 12 artistas na Alentejo Ilustrado: Maria João Lopes Fernandes

Em 2025, todas as capas da Alentejo Ilustrado são criadas por mulheres artistas alentejanas. No- meia-se como artista visual e investigadora com um per- curso relacionando as artes visuais e a literatura. Maria João Lopes Fernandes, nasceu em Évora em1969 e é doutorada em belas-artes (ciências da arte) com a tese “O Encontro Entre a Poesia e as Artes Visuais: Poesia Experimental Portuguesa, 1964-1974”. Alexandre de Barahona (texto)

Naturalmente, conta no seu currículo com inúme- ras exposições individuais e coletivas, tem editado diver- sos Livros de Artista, tem imagens do seu trabalho nas capas de vários livros de poesia. Desta feita, foi sua a capa da revista “Alentejo Ilustrado” n.º 16, de janeiro de 2025. 

Questiono-a por que decidiu um dia ser pintora? Delicadamente refuta a pergunta: “Eu não pinto apenas. Comecei por estudar pintura no Ar.Co nos finais da década de 80, onde também estudei fotografia e desenho. Mais tarde estudei escultura nas Belas Artes e também investigação. A par disso escrevo microficções, no fundo trabalho de um modo multidisciplinar”, responde Maria João, para quem a criatividade e o conhecimento sempre andaram de mãos dadas, ao longo do seu percurso.

Sobre a obra de Maria João Lopes Fernandes, Pedro Sena Lino escreveu que “vai prosseguindo um solitário trabalho, entre a interpretação desconstrutora do experimentalismo e a busca interior da raiz, natureza e possibilidades da forma, e encontra-se num lugar silencioso nas artes plásticas em Portugal. Lugar, montanha, alfabeto (…) numa coerência perturbadora e inquieta: a sua escultura, seu trabalho principal, imprime-se nestes gestos pintados, como se rasgasse montanhas no próprio ato do desenho, alargando o sentido dos traços. Como se nos revelasse nestas feridas de silêncio que são os seus quadros, que uma arte não pode ser senão consciente da outra: que o seu escriturar a tela é uma busca tridimensional da forma, tal como a vida se grava na morte”. Concluindo que “não somos feitos de pele, somos feitos de ferida”.

No entanto, acredito que as pessoas, não se resumem só àquilo que fazem. “São muito elegantes, silenciosos, interagem com os humanos de forma subtil. Têm um mundo próprio, independentes, são uns predadores fofinhos”. Descreve a Maria João sobre uma sua outra paixão: os gatos. “Tenho aprendido imenso com os gatos, por exemplo, que não é necessária muita coisa, para se ser feliz”, afirma a artista, que convive com alguns gatos em casa e gosta de os desenhar quando estão a dormir.

“No Alentejo estão as minhas raízes”, defende. “Onde estou e para onde vou, levo a paisagem alentejana comigo, porque me deu espaço interior”. Esta referência é essencial, pois como tenho repetido, a paisagem no Alentejo está a ser abruptamente alterada. Isso mudará a nossa alma regional, daqui a umas décadas? Diz-se movida pelo desejo e paixão, por isso pinta, por isso desenha, e faz livros, ilustra poesia… “a criatividade e o conhecimento, também são espaços de liberdade”.

Maria João é uma artista atípica, assumida, límpida dos trejeitos e preconceitos daqueles que se “acham artistas”, e por isso metem na cabeça que estão acima dos outros. Eborense, cresceu na cidade que a viu nascer até ter idade adulta e, como tantos, rumar a Lisboa para os estudos superiores.

Sempre foi criativa e pluridisciplinar, sempre manteve a ligação ao Alentejo onde tem a sua família e assiduamente regressa. Confessa, no entanto, ser apaixonada pelo mar, e por isso foi viver “plantada à beira-mar”, segundo diz.

Partilhar artigo:

ASSINE AQUI A SUA REVISTA

Opinião

BRUNO HORTA SOARES
É p'ra hoje ou p'ra amanhã

PUBLICIDADE

© 2025 Alentejo Ilustrado. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por WebTech.

Assinar revista

Apoie o jornalismo independente. Assine a Alentejo Ilustrado durante um ano, por 30,00 euros (IVA e portes incluídos)

Pesquisar artigo

Procurar