Matos Gomes, sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz, publicou vários livros sobre a temática da Guerra Colonial, entre eles, “Nó Cego”, “A Última Viúva de África” e “Os Lobos não Usam Coleira”, publicado em 1995 e adaptado ao cinema por António-Pedro Vasconcelos, com o título “Os Imortais”, em 2003.
“A todos os amigos e seguidores do meu pai, Carlos Matos Gomes, é com profunda tristeza que informo que faleceu hoje, 13 de abril, no Hospital Cuf Tejo, em Lisboa. Partiu sereno e com as músicas de Abril”, lê-se no comunicado publicado da família
No ano passado, em nome próprio, Matos Gomes publicou “Geração D”, que, em entrevista, definiu como uma homenagem e uma autobiografia da sua geração, a que conheceu a ditadura, a Guerra Colonial e fez o 25 de Abril de 1974.
A “Geração D”, explicou, é a geração da “democracia, da deserção, da descolonização, das doutrinas e do doutrinar, da discussão, da dialética, do desmistificar, do desmobilizar, da denúncia, da desobediência, do divórcio”, a geração que “viveu sob um regime de ‘doidos do império’” e dele se libertou.
Em 2020, com o seu camarada de armas Aniceto Gomes, publicou o ensaio “Guerra Colonial”.
Carlos de Matos Gomes nasceu em 24 de julho de 1946, em Vila Nova da Barquinha. Foi oficial do Exército, tendo cumprido comissões em Angola, Moçambique e na Guiné-Bissau.
No processo que conduziu ao derrube do regime ditatorial, desempenhou um papel ativo na preparação das operações militares e na mobilização dos oficiais mais jovens do Exército. Participou em reuniões decisivas do Movimento das Forças Armadas (MFA) e integrou a rede de contactos que assegurou o alinhamento de várias unidades operacionais para a madrugada de 25 de Abril de 1974.
No dia da revolução, Matos Gomes foi um dos responsáveis pelo controlo de posições estratégicas em Lisboa, tendo coordenado movimentos de tropas e assegurado a neutralização de forças fiéis ao regime. A sua experiência adquirida nas campanhas em África revelou-se determinante na eficácia e disciplina das operações do MFA.
Ao longo dos anos, foi também um dos mais ativos divulgadores da história do 25 de Abril e das suas complexidades internas. Escreveu sobre as divergências ideológicas no seio do MFA e defendeu, em várias intervenções públicas e artigos, a importância de preservar a memória da revolução como património coletivo da democracia portuguesa.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, evocou “uma vida de intervenção cívica e pedagógica muito diversificada e intensa, sempre na defesa dos valores porque se batera há mais de cinco décadas”.