“Está a ver este sol?”, pergunta a farmacêutica Elisabete Vidigal, apontando para a pequena imagem estampada numa bolsa onde se encontra um comprimido. “É o símbolo que identifica o momento da toma deste medicamento. O sol corresponde ao jejum, depois temos a chávena de café nesta outra bolsinha, com os comprimidos para o almoço, e por aí fora. Mesmo quem não sabe ler consegue perceber a altura certa para tomar a medicação”, explica.
A questão não é de somenos, e há estudos a comprová-lo. Um deles, o “Simpathy”, realizado pela União Europeia entre 2015 e 2017, concluiu que cerca de 40% das pessoas que tomam cinco ou mais medicamentos não o fazem de forma adequada.
Outro, da Universidade de Coimbra, datado de 2020, e que teve por base entrevistas a idosos em regime de medicação crónica, concluiu que a dificuldade mais significativa na gestão da medicação era a identificação dos medicamentos. Segundo este trabalho, os idosos enfrentam crescentes desafios na gestão da sua terapêutica, tornando-se mais vulneráveis a problemas de saúde decorrentes da ausência ou incorreta administração da medicação. O estudo defende a necessidade de intervenções direcionadas para melhorar a gestão da medicação.
Uma dessas soluções poderá ser a preparação individualizada, que na Farmácia Mendes Dordio, em Cano (Sousel), se tornou automatizada. Um robô separa e embala, por toma, toda a medicação prescrita. “Cada bolsa contém os medicamentos que o doente deve tomar a uma determinada hora. Como vem tudo separado, não há perigo de enganos nem dúvidas sobre se já tomaram ou não a medicação, porque está tudo identificado de acordo com a prescrição médica”, explica Elisabete Vidigal.
Rosa Carreiro, diretora técnica, lembra que a preparação individualizada é prática comum em muitas farmácias, mas feita em blíster — pequenos invólucros com compartimentos para cada toma. “Isso obriga ao manuseamento dos comprimidos e ninguém está livre de cometer erros. Com este sistema, é o robô que prepara as tomas e entregamos tudo pronto aos utentes”, sublinha.
Acresce que, nos lares, o método tradicional de colocar os comprimidos num copinho, que os idosos levam para a mesa, facilita trocas e esquecimentos.
“O robô separa a medicação para uma semana e avisa quando a quantidade começa a ser insuficiente. No caso dos idosos em lar, já temos as receitas médicas na farmácia. Se forem pessoas que estão a viver em casa, pedimos que venham à farmácia buscar os medicamentos, pagar e trazer a receita”, acrescenta a diretora técnica.
Além da Mendes Dordio, farmácias dos concelhos de Évora, Mora e Ponte de Sor também já recorrem a este sistema. “Trata-se da preparação de medicação individualizada, para um doente concreto”, explica Luís Martins, proprietário destas farmácias, sublinhando que este modelo permite a qualquer pessoa “tomar a dose certa, à hora certa, melhorando a gestão terapêutica”.
Uma vantagem particularmente importante em populações envelhecidas, cuja qualidade de vida depende não apenas da existência de médicos de família, mas também da correta toma de medicação nos horários certos.
Outro aspeto relevante: a adesão a este sistema é gratuita para os utentes e pode mesmo representar uma poupança. “Só lhes é solicitado o pagamento dos medicamentos necessários para a semana seguinte. Evita-se, assim, o habitual acumular de medicamentos em casa, que muitas vezes ficam esquecidos quando o estado de saúde muda ou a medicação é revista. Aqui, essa gestão é feita de forma eficaz”, conclui Luís Martins.