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Eis João Fortes, o mais jovem presidente de Câmara do país

Aos 32 anos, João Fortes é o mais novo presidente de Câmara do país. A sua ambição é transformar Mourão num “comunidade vibrante” e atrair novos moradores.

Luís Godinho (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

Quem eventualmente se espante de ver João Fortes chegar de trotineta aos Paços do Concelho é porque, muito provavelmente, não o conheceu em criança, quando se entretinha a percorrer de bicicleta as ruas da vila. Nasceu em Évora, mas aos dois anos já brincava por Mourão, para onde a família se mudou depois do seu pai, empresário industrial, ter investido numa grande unidade fabril que empregava mais de uma centena de pessoas e trabalhava para a Alcatel.

“Foi aqui que cresci, foi aqui que estudei, e mesmo depois de ter voltado a viver em Évora, por vicissitudes familiares, fiquei sempre com a alma presa a Mourão… vinha para cá todos os fins de semana, participava nas atividades desportivas e culturais, criei amigos”, lembra o agora presidente, cuja vida associativa e política teve início na capital de distrito. 

Mais concretamente na Escola Secundária Severim de Faria: “Formámos uma associação de estudantes, muito contra a vontade do diretor, depois lutámos por uma sala de tempos livres para os estudantes”. Desse tempo vem a sua amizade com João Zorrinho, filho do eurodeputado socialista Carlos Zorrinho. 

 Concluído o secundário, talvez em virtude de o pai ser proprietário de uma unidade de turismo rural – o Monte do Colmeal, em Mourão -, talvez simplesmente por vocação, opta por inscrever-se em Turismo na Universidade de Évora, a que se seguiria o mestrado em Economia e Gestão. Durante o percurso académico, não esquece o ano passado na República Checa, no âmbito do programa Erasmus, muito menos o trabalho na Associação Académica de Évora, em cuja direção 

assumiu responsabilidades no apoio aos núcleo de estudantes. Candidatou-se uma vez a presidente da Associação Académica e perdeu. Candidatou-se à Assembleia Magna e ganhou “Foi aí que aprendi, em parte, o que é o propósito de lutar por aquilo que acreditamos, muitas vezes sem haver propriamente o retorno ou o reconhecimento do que foi alcançado”.

A lição, garante, ficou-lhe para a vida. “O mais importante é sentirmos que o mundo está muito justo, sem esperar nada em troca. É também isso que me faz guiar, diariamente, na luta autárquica”. 

Em 2015 torna-se militante da Juventude Social Democrata (JSD). Em 2016 muda de vida, de novo rumo a Mourão. A trabalhar por conta doutrem, como consultor no ramo hoteleiro, olhou para o Monte do Colmeal e sentiu vontade de desenvolver o projeto. “Vim para cá com tudo na mala”. Depois de um investimento de cerca de cem mil euros, a unidade hoteleira passou de seis para 10 quartos, apostou numa campanha de ‘marketing’ muito associada à cultura vinícola alentejana e passou a chamar-se Colmeal Country House and Wine. Foi um sucesso.

Nos tempos livres, claro, o que lhe interessava “era a causa pública e a política”. Dentro do PSD teve um percurso “meteórico”, primeiro como presidente da concelhia da JSD, “estava definhada”, depois como presidente da concelhia. “Foi tudo muito agitado e rápido”, conta João Fortes, lembrando que um ano depois de regressar a Mourão, em 2017, já estava a concorrer às eleições autárquicas como número dois dos sociais-democratas à Assembleia Municipal. Foi eleito. E olha para esse seu percurso como deputado municipal como tendo sido um “tempo de muita aprendizagem” sobre o mundo das autarquias. “Muita gente acha que uma câmara pode fazer tudo e um ‘par de botas’. Isso não é verdade, temos um limite de competências e atribuições imposto por lei”.

Além da vivência política “por dentro”, a experiência como deputado municipal serviu também para João Fortes se “reencontrar” com as pessoas da vila. “Começaram a recordar-se de mim, do João que aqui cresceu e que andava de bicicleta por todo o lado”. Enquanto no horizonte, confessa, perspetivava já uma eventual candidatura à presidência do município, na Assembleia Municipal insista numa “oposição construtiva”, caminho que ainda hoje procura seguir: “Quando sou atacado pela oposição, o que é perfeitamente natural, raramente respondo com ódio ou com rancor, tendo sempre fazê-lo de forma positiva”, assegura.

Foi em plena pandemia de covid-19, entre “quarentenas” e recolhimento obrigatório, que a candidatura à presidência da Câmara de Mourão “começou a ser consubstanciada com maior velocidade, com muitas reuniões, com muita preparação e tudo isso estava assente numa estratégia de posições políticas assertivas, moderadas”. O caminho traçado deu frutos. À frente da coligação “Novos Tempos, Novas Soluções”, que uniu PSD e CDS, em outubro de 2021 conquistou o que era um “bastião” socialista, alcançando 47,14% dos votos e uma maioria absoluta, que constitui uma das surpresas da noite eleitoral.

Sendo o mais jovem presidente do país, num concelho envelhecido (o número de jovens com menos de 15 anos é cada vez menor), João Fortes diz que “vale pouco falar do passado”, ainda que tenha havido “erros estratégicos” na gestão do município. “Os mouranenses sentiram que sou alguém em quem podem confiar, independentemente da idade, num sinal claro de que acompanharam o meu trabalho e acharam que estava na altura de dar um novo alento ao concelho”, sublinha.

TRÊS PRAÇAS DE TOIROS, NENHUMA CRECHE

Dos vários projetos em curso destaca o da abertura de uma creche. Não há nenhuma no concelho de Mourão, apesar de existirem três praças de toiros. O município, garante, vai continuar a apostar forte na cultura tauromáquica, ou não fosse ali que todos os anos se realiza a primeira corrida da temporada taurina, mas quer “sair” do anedotário nacional: “Não deixa de ser paradoxal que num concelho com tanta carência de apoio às famílias ninguém se tenha lembrado de fazer uma creche”. 

Não se trata de uma questão menor. Atualmente, as famílias com bebés são obrigadas a deixá-los em Reguengos de Monsaraz ou na Amareleja. E quando se tenta atrair empresas, fixar pessoas, esse é um fator que pesa negativamente para o lado de Mourão. “Como é que posso competir com outros conselhos ao nível da atratividade se não tenho esse tipo de equipamento?”, questiona. Pouco depois da tomada de posse, foi publicado um aviso de candidatura no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), logo “agarrado” pelo jovem autarca: “A equipa técnica [do município] arregaçou as mangas, desenhámos um projeto de raiz na readaptação de um edifício, lançámos o concurso para as especialidades e acredito que até 2025 possamos ter em funcionamento este equipamento estrutural”. Palavra de presidente.

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