O Alentejo exuberante de Andrés Herrera, o enólogo que sonhou ser toureiro

Esta é a história de um produtor de vinhos de carácter controverso, que um dia sonhou ser toureiro e que acaba de lançar o Maese, tão só o vinho mais caro da Península Ibérica. Luís Godinho (texto)
e Alexandre de Barahona (fotografia)

Se pudesse ter escolhido, bom, Andrés Herrera teria sido matador de touros. “O que eu queria mesmo era tourear, foi o que sempre idealizei. Sou um toureiro frustrado”. Ainda que, em boa verdade, tenha atuado em diversas praças, sobretudo em Espanha e França, também em Portugal.

Nascido no verão de 1977, filho de pai beirão e mãe andaluza, foi no estabelecimento do pai, o Mesón Andaluz, que começou a ter contacto com os vinhos. “Ele provava muito, conhecia os produtores todos, tinha uma carta de vinhos exemplar para um restaurante daquela época e eu, que ainda não podia provar, lá ia lendo os rótulos, as marcas, e passava tudo para um computador onde escrevia a carta de vinhos. Não percebia nada daquilo, mas Luís Pato ou Quinta do Carmo eram-me nomes familiares”, lembra Andrés Herrera.

Depois começou a provar, sobretudo Manzanillas e Jerez, típicos da Andaluzia. “Percebi então que queria aprender a fazer vinho”. Deu-se a circunstância da família, entretanto, ter comprado a Herdade da Murteirinha, próximo de Vimieiro (Arraiolos), o que o levou a optar por Évora para fazer o ensino superior, e aescolher o curso de engenharia agrícola, onde essa vontade da adolescência haveria de tomar forma.

É nas vindimas, logo nas primeiras em que participou a convite de um professor [Pedro Alpendre], que irá consolidar a sua decisão de “fazer vida” no mundo dos vinhos: “Fascinou-me a circunstância de ser possível tornar a uva, um bem perecível vendido a 50 cêntimos o quilo, num produto muito mais valioso, toda essa capacidade de transformar o produto e acrescentar-lhe valor”. Sendo que no seu caso, como veremos, o “acrescentar valor” é elevado a outro patamar.

A primeira vindima, lembra-se, foi com João Portugal Ramos, em 2004. No ano seguinte “outro tipo de vinificação, de abordagem, outros solos, outras plantas”, desta vez na Quinta da Alorna (Almeirim) e a certeza da opção. “Comecei a vindimar na Murteirinha, integrei as equipas de duas adegas, fui para a Austrália e para a Nova Zelândia fazer vindimas, chego a Portugal e fui estagiar para a adega do Tiago Cabaço em Estremoz”, resume.

Ainda haveria de voltar à Austrália e à Nova Zelândia, antes de começar a trabalhar com António Maçanita na Fita Preta. “Mantenho essa relação há 16 anos”. E todos os anos, claro, ia fazendo vinhos na Murteirinha, para consumo da casa e oferta aos amigos, não mais de duas mil garrafas por ano. Até que em 2009 lança a primeira marca. “Correu relativamente mal, talvez por ser muito alcoólico, com 15,5 de graus. Não correu bem”.

É preciso esperar até 2017 para o lançamento dos D [de Diogo] e B [de Beatriz], o nome dos filhos, Torero e Duende, rosés, brancos e tintos da colheita de 2010. E mais sete anos pelos que agora chegam ao mercado.

A produção é pequena (do El Duende Tinto Grande Reserva 2021, por exemplo, não mais de 3525 garrafas), com o preço elevado (95 euros) a traduzir a raridade do que se prova, um vinho feito sobretudo com Aragonez e Trincadeira (vindima de 2017), a que Andrés Herrera adicionou Alicante Bouschet (2015) e Castelão (1999), e que chega ao consumidor depois de três anos e meio de estágio em barrica e de mais dois anos em garrafa.

O vinho de topo [Maese Grande Reserva 2011 DOC Alentejo] apresenta-se, orgulhosamente, como “o mais caro” da Península Ibérica, comercializado a 3873 euros a garrafa. “Ombreando com as mais prestigiadas marcas de vinhos a nível mundial, o Maese revela um carácter e uma personalidade marcante e desafiante, fiel ao que pretendemos, temperados pelos seus 108 meses em barrica, mais três anos em garrafa”, comenta Andrés Herrera. É um vinho com Trincadeira, Aragonez e Castelão, todas de 2011, e uns 3% de Castelão de 1999.

“Estamos a falar de uma vinha velha situada em Borba, que já não existe, que era do meu ex-sogro, e estamos a falar de castas autóctones. A vinha produzia muito pouco, mas nós ainda reduzimos mais, vindimámos, alongámos a fermentação o mais que pudemos, e foi para a barrica. Passados oito anos decidimos engarrafar”.

Foram lançadas 530 garrafas. E o preço? “Começámos a comparar o nosso vinho com outros na gama dos 300 euros, e o Maese aguentou-se. Passámos para a dos 400, depois o mais caro de Espanha, e se esse valia 1000 euros, o nosso valeria três vezes mais”, explica Andrés Herrera, dizendo ter sido ainda preciso “afinar” o valor para que a soma dos algarismos resultasse “em 21, um número mágico”.

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