Évora Teatro Fest começa hoje. A festa do teatro está de regresso

O Évora Teatro Fest está de regresso à cidade. Até final do mês há nove peças, workshops e um concerto poético para promover a reflexão sobre as questões sociais, emocionais e culturais que marcam o nosso tempo. Ana Luísa Delgado (texto)

Diz Figueira Cid, diretor artístico do Évora Teatro Fest, que a grande diferença relativamente à primeira edição é que, desta vez, não haverá só espetáculos para adultos, também para jovens e crianças. Voltam a estar presentes companhias de norte a sul do país, com o arranque agendado para hoje, dia 5, com “O Jantar”, um texto de Hugo Barreiros encenado por David Correia para a companhia Gato Escaldado.

Sendo que outra novidade é a realização do certame no Salão Central Eborense, agora reaberto depois de três décadas de abandono, “com as condições técnicas e de conforto que respeitam e dignificam os que o fazem e os que o vivem”.

Para Figueira Cid trata-se de uma “enorme mais-valia” poder realizar o Festival no Salão Central. “Algumas companhias trazem muita gente, são muitos atores, e a verdade é que as condições técnicas de A Bruxa são suportáveis, pois fizemo-lo em 2021 com espetáculos muito grandes e com elevada carga de cenografia, sem problema, mas não temos um camarim adequado, nem as melhores condições de conforto e de acolhimento”, explica.

Iniciativa de A Bruxa Teatro, a programação assenta em artistas e estruturas emergentes – “companhias que não têm grandes apoios ou financiamento por parte da Direção-Geral das Artes e que achamos ser importante divulgar, promover” – lado a lado com outras há muito implantadas no panorama teatro português. Um dos destaques poderá ser “Ninguém”, no dia 22 de outubro, um texto de Zeferino Mota encenado e interpretado por António Capelo (Teatro do Bolhão), que na véspera irá dirigir um workshop sobre “como criar ferramentas para encontrar o espaço tão solitário da criação”.

Para o encerramento foi convidada a companhia inglesa Themesis Theatre que irá apresentar no dia 26 de outubro “Sealskin” [“Pele de Foca”], uma batalha entre desejo e pertença, “que combina a fisicalidade extraordinária e brincante” da companhia “com a manipulação de bonecos, narração de histórias e um incrível design de projeção”.

A pensar no público infantil, no dia 8, o Teatrão, de Coimbra, trará “Exercícios de Ser Criança e Outros Aprendimentos”, a partir da poesia de Manoel de Barros, e o Teatromosca (Cacém, Sintra) contará a “História de uma Gaivota e do Gato que a Ensinou a Voar”, a partir de um texto de Luís Sepúlveda, com encenação e desenho de luz de Mário Trigo. Será no dia 17. A expetativa de Figueira Cid, claro, é que o número de espectadores supere o da primeira edição, realizada há três anos.

Desde logo porque a sala é três vezes maior, com 170 lugares; depois porque boa parte dos espetáculos apresentados na primeira edição acabaram por esgotar. “Nalguns casos ficou mesmo muita gente de fora, baixámos o preço dos bilhetes para os seis euros, quatro no caso de jovens estudantes e reformados, pelo que acredito que teremos plateias muito agradáveis”, diz o diretor artístico.

Percorrendo o cartaz, depois de “O Jantar”, na abertura, haverá no dia 10 “Adrianopla”, texto de Pedro Saavedra sobre a gravação de um documentário no final do século XX numa comuna anarquista algures no interior dos Alpes austríacos. Sucede que o verdadeiro documentário não será tanto essa aventura utópica, antes “os constantes subornos” oferecidos ao líder, bem como “os crescentes conflitos individuais” que este vai tentando resolver. Coprodução de O Fim do Teatro e Teatromosca, a cenografia é de Luís Santos.

Já o Teatro de Animação de Setúbal propõe, para dia 12, o concerto poético “Elas Encheram as Ruas de Cravos”, uma abordagem à poética e à música de intervenção do 25 de Abril, com interpretações de Célia David e João Fernandez. De Famalicão, o Momento – Artistas Independentes trará “Província”, uma homenagem ao Minho e às mulheres, com criação de Diogo Freitas. Será no dia 15 de outubro. Quatro dias depois, “O Globo de Saramago – 1993” é a proposta da Leirena Teatro. Pelo Évora Teatro Fest passará também “Quando a Sul o Azul Luar” (dia 24), projeto de arranque de Nuno Pinto Custódio com o Colecta – Colectivo Teatral do Algarve.

Conta Figueira Cid que A Bruxa não irá apresentar qualquer espetáculo. E diz que se trata mesmo de uma “questão sagrada”, repetindo a decisão tomada em 2021. “Sempre que voltarmos a fazer o Festival não iremos incluir produções nossas, pois ao fazê-lo estaríamos a impedir a presença de outra companhia e presumo que o público de Évora tenha oportunidades mais que suficientes para ver o nosso trabalho”.

Falta falar de apoios. Apesar do financiamento da Direção-Geral das Artes e do Município de Évora e do apoio da CCDR do Alentejo, entre outras entidades, o orçamento mantém-se nos 40 mil euros, sendo que os custos subiram de forma acentuada. “Podemos fazer bem melhor, mas a verdade é que não há condições para isso quando as entidades, sobretudo as locais, nos financiam com valores muito menores do que, por exemplo, um qualquer espetáculo de música”, lamenta.

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