Não é que o antigo Convento dos Religiosos Agostinhos Calçados, fundado no século XVI bem no centro de Arronches, estivesse apenas degradado. O estado de conservação, lembra o presidente da Câmara, era bem pior. “Estava a cair, a cobertura já não existia, as paredes estavam em ruína, a situação era de tal forma grave que corríamos o risco de o edifício se desmoronar”, recorda João Crespo, numa conversa onde ainda se haverá de falar da importância da cultura para o desenvolvimento dos territórios, mas que começa pelo património, por uma longa história de esplendor e de abandono.
Legalizada em Portugal no ano de 1520, meio século depois estava a congregação de Santo Agostinho a fundar um convento em Arronches, precisamente no local onde existia a ermida de Nossa Senhora da Luz, e onde os agostinhos calçados haveriam igualmente de construir uma igreja, parte integrante do convento.
Com a extinção das ordens religiosas, o imóvel foi sendo adaptado a outros usos. No rés-do-chão e no primeiro andar construíram-se paredes para tornar o espaço habitável, ali vivendo diversas famílias até ao início desde século. O antigo convento albergou também um supermercado, foi utilizado como depósito para máquinas de limpeza urbana e serviu como armazém de cereais.
“Havia paredes cobertas de alcatrão até metade da altura para controlar a humidade”, conta o autarca, recordando que o edifício, classificado como Imóvel de Interesse Público, acabou por ser adquirido pelo Município, mas “meteram-se outras prioridades de investimento” e esta foi ficando para trás.
“No último mandado da engenheira Fermelinda Carvalho [2017/2021] avançou-se então com a conceção do projeto técnico para a reabilitação do convento”, sublinha João Crespo, numa altura em que o objetivo era “garantir que o edifício não ruía e ainda sem qualquer fim específico para a sua posterior utilização”. As obras, num projeto de 1,7 milhões de euros financiado por fundos comunitário, iniciaram-se em 2021, decorrendo ao longo de dois anos.
Com o avançar dos trabalhos tornou-se inevitável pensar na finalidade do imóvel, também porque quem dirige o Câmara começou a perceber que “a disponibilização do espaço para usufruto das pessoas” correspondia a uma “exigência” da população.
“Era preciso dar-lhe vida e, depois de tanto tempo fechado, abri-lo à população”. Uma primeira ideia foi instalar no local o posto de turismo – “é uma forma de puxar as pessoas para lá” -, depois aproveitar o espaço para criar uma galeria municipal, aberta a propostas, incluindo as dos artistas da terra.
“A dinâmica tem sido tão grande que a vereadora da Cultura tem uma lista de espera enorme para a realização de exposições”, conta o presidente da Câmara. Há também uma sala polivalente destinada a conferências ou apresentações de livros. Para duas salas do rés-do-chão será transferido todo o acervo do Museu de Arte Sacra, atualmente instalado no coro alto da Igreja de Nossa Senhora da Luz, num espaço de difícil acessibilidade, que reúne um acervo “histórico e cultural muito interessante”, num espólio proveniente de igrejas que estavam espalhadas pelo concelho.
E há também um pequeno núcleo museológico dedicado à arqueologia, incluindo a réplica de uma estela classificada como Tesouro Nacional, cujo original se encontra no Museu de Arqueologia, em Lisboa, mas que o Município gostaria de poder exibir no território onde foi encontrada.
“Queremos criar uma dinâmica cultural que traga visitantes ao concelho. É óbvio que também temos outros fatores de atração, como a gastronomia e os vinhos, mas a cultura e o património são elementos diferenciadores que estamos apostados em valorizar”, conclui João Crespo.