José Alberto Fateixa: “Erguer ou derrubar os muros”

A opinião de José Alberto Fateixa, professor

Vivemos um tempo de permanente “sobreaquecimento” relacional entre pessoas e as “temperaturas” continuam a subir. Na comunicação social os temas são continuadamente sobre ameaças, abusos, roubos, corrupção, deslocações de pessoas, insegurança, guerras, mortes… As redes sociais são novos campos de batalha, e a estes temas são adicionadas lamúrias, situações mal resolvidas, invejas, convulsões mentais… O erguer de muros e as divisões crescem por todo o lado.

Há uma agenda global de uma extrema-direita cada vez mais radical que corrói as democracias e que visa a instalação de regimes iliberais ou mesmo ditatoriais.

Os temas e mensagens repetem-se e estão alinhados no crescimento no confronto continuo e na rotura, entre estes:

  • Divisão simplista do mundo, em bons e maus, em que ações similares são apoiadas ou criminalizadas consoante quem as pratica; menosprezo dos resultados eleitorais, transmitindo a ideia de que são burlas para não permitir ganhar quem o merece, ou que as eleições é um gasto desnecessário;
  • Desvalorização dos regimes democráticos criando a ideia de que os Estados são meras máquinas que retiram recursos sem retorno para pessoas ou empresas incumprindo nas suas funções (defesa, segurança, justiça, social…);
  • Generalização da ideia de que a todos os níveis os decisores públicos são corruptos, incapazes de resolver até os problemas mais simples e que a entrega a privados resolve todos os problemas;
  • Acusação sistemática de inoperância dos trabalhadores para desregular as relações laborais e embaratecer o trabalho;
  • Criação de um ambiente generalizado de insegurança nas cidades ou no campo, ligando-o aos migrantes e a comunidades específicas;
  • Diminuição e retirada de apoios aos mais pobres e mais frágeis considerados gastos desnecessários;
  • Instrumentalização da comunicação e das redes sociais alimentando-as com o matraquear nos temas atrás elencados.

A manifestação de posições é cada vez menos fundada no conhecimento e na complexidade de variáveis dos problemas e cada vez mais por expressões primárias de gritaria, tensão e facilitismo pacóvio.

Aliás, demasiadas vezes nesta via estão protagonistas que tiveram ou têm ação e responsabilidades nos poderes da sociedade global, nacional ou local. As forças democráticas precisam entender estas crescentes dinâmicas de rotura e afastamento dos pilares dos regimes democráticos corroendo os avanços civilizacionais alcançados em liberdade pelo Estado Social resultante do pós-II Guerra Mundial.

Projetos políticos distintos são importantes, mas o fundamental é juntar saberes e vontades comprometidas na resolução dos problemas reais e essenciais das pessoas de modo livre, justo e fraterno que permitam derrubar muros.

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