No velho ano celebrou-se uma década desde que o cante alentejano foi declarado Património Imaterial da Humanidade, pela Unesco. Há várias décadas que me lamento pelo nosso cante pouco evoluir em termos musicais e até poéticos. Quedando-se amarrado à imagética das ceifeiras, inclusive manipulado como instrumento político por alguns, como objeto de marketing por outros. Será que a nossa milenar cultura alentejana se resume a isso? É uma pergunta que vos deixo no ar.
Repararam como em redor de nós, a paisagem alentejana se vem transformando? Trocando as rasas planícies por denso arvoredo de olivais intensivos alinhados, arrasando o montado em prol de gélidos painéis solares? Será apenas a paisagem que transformamos ou é toda uma cultura histórica que deixamos desaparecer? É outra questão que vos lego para este novo ano agora iniciado.
Porque este ano é ano de eleições autárquicas, e o poder local tem sido mal utilizado no nosso Alentejo. Porque se fecha em partidarismos, porque se mutila sob complexos de inferioridade.
O comodismo tem sido o nosso pior inimigo. Vou-vos confiden- ciar: acho que no Alentejo somos cobardes. Que dizemos mal de tudo e todos, mas temos receio de dar as mãos, de aplaudir e de pensar em conjunto, sem interesses pessoais.
Um dos projectos da revista para 2025 é o de preencher todas as nossas capas do ano, com ilustrações de mulheres artistas alentejanas. Outro, é o de publicar grandes reportagens sobre temas fulcrais na sociedade portuguesa e no Alentejo, em artigos de fundo. O primeiro prolonga-se por três capítulos, cada um nas três edições sucessivas de hoje até março, e incide sobre os acidentes vasculares cerebrais (AVC) que são a maior causa de morte em Portugal.
Outros projetos temos para este novo ano, que preferimos divulgar atempadamente, surpreendendo os nossos leitores e assinantes.
Saibamos viver 2025 construindo o presente, planeando o futuro. A revista “Alentejo Ilustrado” está cá para isso. Sem rodeios nem medos.