Nascida em Évora em 1997, Isabel Murteira licenciou-se em pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, aproveitando desde logo o programa Erasmus para rumar à Academia Real de Belas Artes em Antuérpia, Bélgica. Conta com um vasto currículo, quer de colaborações, com o Museu do Oriente em Lisboa e um mestrado na Universidade de Arte e Design de Muthesius Kiel, Alemanha, como de numerosas exposições coletivas e individuais, em Portugal e além-fronteiras. Ao talento que evidencia, agrega-lhe a coragem, de uma mulher de armas e de uma nova geração.
Quais são os seus planos, sonhos de futuro?
O meu verdadeiro sonho, desde criança, é ser pintora a tempo inteiro. Imagino-me com um atelier espaçoso e luminoso, perto da natureza e na companhia de vários gatos, quiçá no Alentejo, e passar os dias a pintar. Neste momento ainda não é possível, mas é o meu objetivo. Sinceramente, não sei onde estarei num futuro próximo, pois, a vida dá muitas voltas e é difícil de entender ou prever qual o lugar, ou lugares, em que decidimos “assentar” ou dar o nosso contributo. Contudo, estou aberta ao que o destino me propor. Talvez ainda explore um pouco mais a vida na Alemanha, em Berlim por exemplo, mas também me imagino a regressar ao meu país.
Sei que vou voltar, isso é uma certeza, apenas não sei quando. Tem sido uma boa vivência, mas quando a saudade aperta torna-se desafiante viver no estrangeiro, confesso. São vários os obstáculos, sobretudo emocionais, mas são esses mesmo que me movem a pintar e a refletir o que estou a viver e a sentir. Este sentimento de não saber ao certo onde pertenço faz-me debater com emoções que até agora não tinha debatido, e não há melhor maneira de as expressar ou tentar entendê-las senão através do pincel e da tela. Não enquanto terapia, mas sim como um espelho da mi- nha existência e do meu mundo interior, daí a importância e a frequência dos autorretratos.
O que é o Alentejo para si?
É casa. E não há nada como regressar a casa, a Évora! Transbordam em mim lindas memórias repletas de amor e alegria, tanto da minha infância como dos anos seguintes, com a minha família e os nossos animais, na nossa casa alentejana rodeada de verde e de vida. Tenho a sorte e o orgulho de poder dizer que cresci perto da natureza, circundada pela linda paisagem alentejana repleta de sobreiros e searas amarelas e isso exalta em mim um sentimento de nostalgia e pura felicidade.
É o lugar onde também iniciei o meu gosto por desenhar, logo na creche. Os meus pais têm apoiado desde sempre o meu crescimento criativo e estou-lhes eternamente grata por isso. Sobretudo a minha mãe, que quando trabalhou na biblioteca escolar deu-me a conhecer desde muito cedo um vasto leque de incríveis livros. Livros esses que, não só continham excelentes histórias como também ilustrações fascinantes que sempre me deslumbraram e inspiraram, de ilustradores que ainda hoje admiro, como Teresa Lima, Danuta Wojciechowska, Rebecca Dautremer, Gustavo Aimar, André Letria, Tim Burton e muitos outros.
Frequentei o atelier Teoartis durante vários anos da minha infância e foi lá onde aprendi a expressar a minha criatividade em diferentes formas, técnicas e materiais. Irei sempre lembrar-me desses bons anos e aprendizagens que recebi da professora Teolinda Pascoal, que sempre me incentivou a explorar os meus mundos imaginários. Mundos esses que transportei para o pa- pel através dos coloridos lápis de cera, que ainda hoje me acompanham em todos os esboços – são sempre o meu primeiro contacto com a pintura.

Título: “Chaos Theory at tea time”
Ano: 2023
Dimensões: 140x100cm
Media: Acrílico sobre tela