O programador e curador John Romão, escolhido para diretor artístico de Évora – Capital Europeia da Cultura em 2027, afirma que ainda “há tempo suficiente” para desenvolver os projetos e “fazer um bom trabalho”.
Na véspera de tomar posse, John Romão cessa funções como curador da bienal internacional de arte contemporânea BoCA, onde esteve durante uma década, e manifesta-se “desejoso de aplicar esse conhecimento” na preparação da Capital Europeia da Cultura.
A cerimónia de posse decorrerá esta terça-feira, no Mosteiro de São Bento de Cástris, em Évora. John Romão assume a direção artística e Manuel Veiga a direção executiva, ambos escolhidos em concursos internacionais e aprovados por unanimidade pela associação gestora de Évora 2027.
Em declarações à Lusa, o programador reconhece o atraso na abertura, em janeiro deste ano, dos concursos para estas funções, mas mostrou-se otimista. “Desconheço as razões exatas que levaram a este atraso, mas acho que estamos ainda muito a tempo de fazer um bom trabalho”, frisa.
John Romão garante que irá “reforçar, aprimorar” os projetos já definidos no dossier de candidatura, aprovado com programação para 2027. Segundo adiantou, pretende abrir três concursos — um internacional, um regional e outro dedicado a festivais da região — para completar a programação.
“Temos que ser rápidos nesta abertura, mas há tempo muito suficiente para desenvolver projetos. Na BoCA vamos ter cerca de 30 novas criações em estreia mundial. Em Évora será uma escala maior, estamos a falar de cem, mas temos tempo para isso, estamos perfeitamente sintonizados”, sublinha.
Para a Capital da Cultura, o novo diretor artístico pretende levar a mesma combinação de valores que aplicou na bienal BoCA: “inclusão, transdisciplinaridade, sinergia e criatividade”, mas adaptada ao território específico do Alentejo. “O meu foco é o território e estes elementos são importantes. Vão dar um novo movimento, uma nova energia ao território, [para] que se torne mais atrativo a nível cultural e social, que consiga atrair novos públicos e residentes, que é transversal a todo o Alentejo”, refere.
A preparação de Évora 2027 não esteve isenta de polémicas, com a demissão da coordenadora da candidatura, Paula Mota Garcia, em outubro passado, alegando que “não estavam reunidas as condições” para continuar. Na altura, apontou atrasos na constituição da associação gestora, formalizada apenas em fevereiro deste ano.
Em dezembro, a presidente da associação Évora 2027, Maria do Céu Ramos, repudiou o que classificou como atos que “prejudicam gravemente o projeto”, reafirmando a “legalidade e legitimidade” do mandato dos dirigentes.
Também nessa altura foi divulgada uma carta enviada à Comissão Europeia por sete programadores e comissários de Capitais Europeias da Cultura, manifestando preocupação com a saída de Paula Mota Garcia e eventuais atrasos na produção e execução da programação. Sobre esse episódio, John Romão afirmou que “entre aqueles programadores europeus houve quem tivesse recuado na posição e reconhecido alguma precipitação e ansiedade”.
Quanto à bienal BoCA, a próxima edição está marcada de 10 de setembro a 26 de outubro, em vários espaços culturais de Lisboa e, pela primeira vez, de Madrid. John Romão deixa a programação definida para esta edição, que será executada pela coordenadora artística Suzanne Marivoet, antes de se iniciar o processo de escolha da nova direção.
Desta década de trabalho na BoCA, o programador destaca o esforço de “criar um maior diálogo entre instituições, territórios artísticos, geografias nacionais e entre os próprios artistas que habitam os lugares da sua prática”. A bienal, que tem como missão encomendar novas obras artísticas transdisciplinares, contará este ano, em Madrid, com parceiros como o Museu Nacional do Prado, o Museu Thyssen e a Filmoteca Espanhola.