Maria do Céu Pires: “Páscoa”

A opinião da professora Maria do Céu Pires

Os rituais assumem uma grande importância na vida dos seres humanos. É a sua prática que promove a união, a identidade pessoal e grupal. Servem para marcar ciclos de vida, etapas de crescimento, momentos especiais, nos indivíduos e nas comunidades. Dessa for- ma, quebram a banalidade, a pobreza espiritual, o tédio da quotidianidade.

A celebração da Páscoa (‘Pesach’ em hebreu) corresponde a um ritual importante para a cultura ocidental. Nos povos do Mediterrâneo foi festejada como momento de passagem do inverno à primavera; para os judeus também foi ritual de passagem, da escravatura à libertação do povo que, conduzido por Moisés, atravessou o Mar Vermelho; para os cristãos corresponde à ressurreição de Cristo e, portanto, na passagem da morte à vida.

Assim, o que temos em comum na conjugação destas diferentes origens é a celebração da renovação, na na- tureza e na vida humana, a esperança de uma vida nova. Os povos antigos, germânicos e celtas, celebravam a Páscoa usando elementos simbólicos como coelhos e ovos, associados à fertilidade. A tradição de pintar ovos e escondê-los terá sido levada para o continente americano por emigrantes alemães, no século XVIII. Também nisto dos rituais, a interculturalidade e as deslocações humanas são importantes! Podemos, então, resumir a Páscoa a isto: festa da renovação e da fertilidade,

A par das celebrações religiosas, em Portugal, no Alentejo, a Páscoa está associada a tradições comunitárias muito interessantes. Uma delas tem como centro o forno comunitário onde se cozem os folares e outros bolos que serão distribuídos por afilhados/as, amigos e familiares. Também as romarias realizadas na 2ª feira de Páscoa, para comer o borrego no campo são momentos de comunhão, de fraternidade e de esperança.

Todos estes costumes e vivências se encontram em perfeita sintonia com campos pintados de tonalidades amarelas, roxas, brancas, vermelhas, verdes, em vastos tapetes até um horizonte que parece não ter fim. Para onde quer que se dirija o olhar, o que observamos é a vida numa força indomável, soberana, pujante. Impossível não sentir júbilo!

Hoje, que vivemos tempos áridos, vazios de sentido, onde a morte caminha, lado a lado com as ameaças das bombas e do fanatismo, precisamos ainda mais de ritos, de poesia, de vida. Que venha a alegria da Páscoa!

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