Preço em alta “aquece” corrida ao ouro em várias zonas do Alentejo

Já é um clássico: sempre que o preço do ouro atinge máximos históricos, lá aparece gente interessada em fazer prospeções no Alentejo. Desta feita há pedidos para a Serra de Monfurado, entre Montemor-o-Novo e Évora, mas também para uma área de 500 quilómetros quadrados, entre Moura e Ficalho.

Presidente da Câmara de Montemor-o-Novo, Olímpio Galvão não hesita: “Somos totalmente contra a exploração mineira na nossa região e acreditamos que já há dados suficientes de prospeção”. A Serra de Monfurado, uma vasta área com 447,5 quilómetros quadrados nos concelhos de Montemor-o-Novo, Évora, Vendas Novas e Viana do Alentejo, volta a ser “cobiçada” por empresas interessadas em avançar com trabalhos de prospeção mineira. É sempre assim, mal o preço do ouro começa a subir, e desta vez tem vindo a atingir máximos históricos.

Ao longo dos anos foram vários os pedidos de prospeção, que nalguns casos até terminaram mal, com a detenção de responsáveis da empresa, acusados de prestarem informações falsas ao mercado. Quem o lembra é Olímpio Galvão, cuja autarquia a que preside emitiu parecer desfavorável a um novo pedido, agora apresentado por uma empresa unipes- soal com um capital social de 500 euros.

“Minas a céu aberto com uma profundidade até cerca de 120 metros vão causar um crime ambiental na nossa zona e toda a biodiversidade e riqueza ambiental da Serra do Monfurado vale muito mais do que o ouro que possa ser tirado”, defende o autarca, lembrando que os resultados de trabalhos anteriores apontam para um máximo de duas gramas de ouro por cada tonelada de terra. É fazer as contas: “Para se tirarem 500 toneladas de ouro, que é a intenção da empresa, é preciso revolver 250 milhões de toneladas de matéria”. E, claro, destruir boa parte da Serra.

Opinião contrária tem o representante da empresa, Rui Fernandes, segundo o qual o impacto ambiental “é zero”, pois nesta fase de prospeção estão apenas previstas “sondagens mecânicas com 10 centímetros de diâmetro e pode ser feita prospeção geofísica aérea, que funciona quase como um raio-X à crosta terrestre”. E, depois, garante, “até é capaz de haver viabilidade” na exploração de ouro, cujo preço “está quase” a atingir os 100 euros a grama.

O receio de impactes ambientais, a falta de provas da idoneidade e fiabilidade da empresa proponente ou as implicações para os sectores do turismo e da agricultura foram algumas das preocupações manifestadas por particulares e entidades que participaram na consulta pública ao pedido de prospeção.

Das 172 participações enviadas à Agência Portuguesa do Ambiente, 169 manifestaram discordância em relação ao projeto. Autarquias, associações ambientalistas e de defesa do património, partidos políticos e a Universidade de Évora pronunciaram-se de forma desfavorável. A decisão final será tomada pelo Governo. Além do ouro, a empresa quer igualmente avaliar a existência de depósitos minerais de cobre, chumbo, zinco e prata.

Um pedido idêntico está a ser feito mais a sul, por uma outra empresa, numa área denominada Moura-Ficalho, que abrange 500 hectares nos concelhos de Moura, Portel, Serpa e Vidigueira, reconhecida por ter “elevado potencial para a ocorrência de metais-base, como cobre, níquel e zinco, e ainda metais preciosos, como ouro e prata”.

A Novum Resources, empresa detida pela australiana Perito Metals e pela belga Walzinc, diz que o seu plano prevê a execução, ao longo de três anos, de “levantamentos geofísicos e geoquímicos, sondagens e ensaios metalúrgicos”, tendo por objetivo “encontrar dados suficientemente positivos que permitam calcular os recursos e reservas existentes”.

A empresa anunciou a participações em sessões públicas para “esclarecer dúvidas” sobre o projeto de prospeção, que já foi criticado pelo Livre, segundo o qual “a exploração de minérios a céu aberto provoca danos profundos e irreparáveis no meio ambiente, destruindo habitats e desfigurando a paisagem”.

Fotografia: Cabrita Nascimento/Alentejo Ilustrado

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