Numa terra não muito distante, havia um país onde os políticos tinham a incrível habilidade de transformar mandatos em maratonas de escândalos. Governar por mais de um ano? Impossível! Não porque faltasse competência (embora isso também fosse discutível), mas porque, invariavelmente, alguém acabava sendo acusado de corrupção, antes mesmo de apagar as velas do primeiro aniversário no cargo.
Era um ciclo tão previsível quanto o nascer do sol. Os da direita prometiam ordem e progresso, enquanto os da esquerda juravam igualdade e justiça. Mas, no fundo, todos sabiam que o verdadeiro desafio não era governar, mas sim sobreviver ao inevitável tsunami de denúncias. “Quem será o próximo a cair?” virou o passatempo nacional, com direito a bolsas de apostas.
Os debates eleitorais eram um espetáculo à parte. Os candidatos se enfrentavam como boxeadores, lançando promessas e acusações. “Se eu for eleito, construirei hospitais em cada esquina”, dizia um. “E eu farei com que todos tenham acesso a saúde gratuita e de qualidade”, retrucava o outro. Mas, no fundo, todos sabiam que o verdadeiro vencedor seria o primeiro a evitar uma investigação por pelo menos seis meses.
Enquanto isso, os cidadãos assistiam a tudo com uma mistura de ceticismo e humor. “É como assistir a uma novela ruim”, dizia Dona Maria, uma reformada que nunca perdia uma eleição, mas sempre votava com um suspiro de resignação. Os jovens, por outro lado, transformaram a política em um ‘meme’ ambulante e criaram ‘hashtags’ como #CorrupçãoDoAno. “É a nossa maneira de lidar com a loucura”, explicava João, um estudante de 22 anos. “Se não podemos mudar o sistema, pelo menos podemos rir dele”.
E assim, ano após ano, o ciclo continuava. Os políticos entravam e saíam do poder como personagens de um ‘reality show’. Alguns até tentavam fazer algo significativo durante seus breves mandatos, mas a combinação de burocracia e escândalos tornava isso quase impossível. No final, o país seguia em frente, não por causa dos políticos, mas apesar deles.
Um dia, algo inesperado aconteceu. Um grupo de cidadãos decidiu que era hora de quebrar o ciclo. Eles criaram o movimento”Escândalos Zero” e começaram a pressionar por reformas que exigissem maior transparência e punições mais severas para os corruptos. A ideia era simples: tornar a corrupção tão arriscada que até os políticos mais ousados pensariam duas vezes antes de enfiar a mão no pote.
O movimento ganhou força, e logo se tornou o principal tema das eleições daquele ano. Os políticos, claro, tentaram se adaptar. “Sempre defendi a transparência”, dizia um candidato, embora ninguém se lembrasse disso. “É a única maneira de garantir progresso real”, afirmava outro, enquanto revisava suas promessas de campanha.
No final, o movimento “Escândalos Zero” conseguiu unir o país em torno de uma causa comum. E, pela primeira vez em décadas, os cidadãos sentiram que estavam no controle de seu destino. Os políticos, por sua vez, perceberam que precisavam se adaptar a um novo tipo de jogo, onde a honestidade e a competência eram mais importantes do que slogans vazios e promessas extravagantes.
E assim, o país peculiar come- çou a escrever um novo capítulo em sua história. Ainda havia desafios, é claro, mas pela primeira vez em muito tempo, havia também esperança. E, quem sabe, talvez um dia eles até consigam construir aqueles hospitais em cada esquina. Afinal, sonhar não custa nada.