Bruno Gonçalves Pereira e os novos caminhos de Santiago do Cacém

À frente do Somos Todos Cidadãos, Bruno Gonçalves Pereira irá disputar a presidência da Câmara de Santiago do Cacém com o “histórico” Vítor Proença (CDU). A seu favor conta com o apoio de PS e PSD, o que “não tira a matriz independente” do movimento. Luís Godinho (texto)

Chama-se Bruno Gonçalves Pereira, es- tudou direito e comunicação social em Lisboa, passou pela Renascença e pela Rádio Comercial, é uma das vozes da Antena 1 e, desde já, uma das surpresas para as próximas autárquicas em Santiago do Cacém. À frente do movimento independente Somos Todos Cidadãos (STC), conseguiu o feito inédito de somar o apoio do PS e do PSD para defrontar um dos “dinossauros” do poder local.

Vítor Proença é assim uma espécie de “presidente profissional”, instalado em cadeiras presidenciais desde há 24 anos. Quando atingiu o limite de mandatos em Santiago do Cacém, tentou a sorte no vizinho concelho de Alcácer do Sal e foi eleito em 2013. Reeleito em 2017 e 2021, volta agora a atingir o limite de mandatos, em Alcácer, o que o impede de concorrer a este município.

Apesar de envolvido em diversas polémicas – numa delas, a revista “Sábado” noticiou que a Câmara de Alcácer do Sal adjudicou ao sogro do presidente 93 mil euros em tintas e diluentes -, Vítor Proença não pensa em parar. A CDU já anunciou que, em outubro, se apresentará a votos… agora, de novo, em Santiago do Cacém, para “dar continuidade ao projeto, à visão e às propostas” dos comunistas e “aprofundar ainda mais uma gestão democrática, de proximidade e inovadora”.

É um homem do Partido: integra a Direção Regional do Litoral Alentejano do PCP, bem como o Gabinete Técnico de Apoio às Autarquias Locais, estrutura que funciona “junto” do Comité Central do PCP.

O seu principal opositor será Bruno Gonçalves Pereira. “Chega um momento em que não podemos continuar a assistir, impávidos, ao avanço lento ou até à estagnação do concelho onde nascemos e que tanto amamos. E quando assim é, não importa mudar de vida ou deixar para trás uma carreira onde tenho sucesso e sou feliz”, diz o candidato independente à “Alentejo Ilustrado”, explicando que o movimento STC “nasceu da reflexão de um grupo de pessoas que, partilhando esse mesmo amor pelo concelho, sentiu que era tempo de agir, de concretizar ideias e projetos, de mudar Santiago do Cacém”.

Não o espera uma tarefa fácil. Em primeiro lugar porque este é um dos raros municípios que nunca mudou de cor partidária, sendo gerido pelo PCP desde a Revolução de Abril, há 50 anos, quase tantos como os que Vítor Proença tem de militância. Depois, porque a CDU parte para as eleições com uma maioria absoluta de 43,25% dos votos (em 2021), o que lhe vale quatro dos sete vereadores.

Uma candidatura independente, em Santiago do Cacém, é novidade. Uma aposta que Bruno Gonçalves Pereira diz “fazer todo o sentido” uma vez que nasceu de uma “reflexão coletiva”, ainda que o propósito tenha sido o de alargar horizontes. “Como tenho dito várias vezes”, refere o candidato, “este movimento quer ser abrangen- te e aberto. Por isso, desafiámos os partidos da oposição a juntarem-se a nós para construir uma candidatura forte e agregadora. Felizmente, essa união tem vindo a concretizar-se”.

A nível de apoios soma já os do PS e do PSD, que decidiram não apresentar candidaturas, e não se trata de apoios de somenos. A soma das votações destes dois partidos, nas últimas autárquicas, foi de 42,67% dos votos, apenas menos 0,58% que a da CDU.

“Com esta decisão, os militantes e simpatizantes do PS passam a estar disponíveis para contribuir ativamente para esta candidatura, acreditando que é a melhor solução para o concelho”, refere a concelhia socialista, considerando tratar-se de uma “nova forma de participação, focada na construção de soluções que verdadeiramente sirvam os interesses da população”.

Já a concelhia social-democrata destaca o “potencial” do movimento “formado por cidadãos oriundos de diversos quadrantes da sociedade civil, empenhados na mudança e na construção de um futuro melhor” para o Município.

“Após diversas conversas construtivas, ficou claro que ambos os partidos partilham a mesma vontade de mudança e de virar a página de quase 50 anos de gestão comunista”, sublinha Bruno Gonçalves Pereira, admitindo que outros partidos possam vir a juntar-se ao STC, o que “não tira a matriz independente deste movimento”.

“Embora sejamos um movimento independente, formado em grande parte por cidadãos sem ligação partidária ou experiências de candidaturas anteriores, não desconsideramos a participação de pessoas com ideias políticas alinhadas aos parti- dos da oposição democrática”, garante o candidato, destacando a “maturidade política” das estruturas locais do PS e PSD ao “reconhecerem que este movimento representa as verdadeiras necessidades de Santiago do Cacém, com propostas e competências que podem fazer a diferença”.

Bruno Gonçalo Pereira diz candidatar-se por ver “um concelho estagnado”, em que a autarquia “gere apenas o dia-a-dia, sem estratégia, sem visão e sem ambição”, onde o investimento “é travado por desconfiança e burocracia” e onde “não há estratégia para resolver os problemas da habitação, do estacionamento ou para aliviar a carga fiscal” das famílias.

“A falta de visão”, conclui, “levou a anos de queixas acumuladas em todas as freguesias. Basta sair à rua e ouvir as pessoas – muitas ainda com receio de falar abertamente. Isso tem de acabar. Queremos um concelho onde a voz dos cidadãos conte de verdade e tenha impacto real nas decisões”.

A “Alentejo Ilustrado” publicará no próximo fim de semana uma longa entrevista com Bruno Gonçalves Pereira

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