O trabalhador agrícola Md Al Mamun, a residir em Odemira há quase uma década, levou o filho bebé para participar no protesto que juntou cerca de 100 imigrantes, em São Teotónio, contra as políticas do Governo.
No Bangladesh, de onde é natural, quando acabou os estudos, abriu uma loja e era aí que trabalhava, mas quis o “destino” que a sua vida rumasse a Portugal, mais concretamente a Odemira, no distrito de Beja, onde já mora há nove anos.
Num português ainda não fluente, mas esforçado, Md Al Mamun explica que se encontra em solo luso com a mulher e que, dentro do carrinho que empurra, está o seu filho, Abdullah Al Mamun, que “já nasceu em Portugal”.
A pouca distância, vão-se juntando imigrantes, sobretudo do Indostão, num largo em São Teotónio para o qual a associação Solidariedade Imigrante marcou uma concentração para protestar contras as políticas do Governo para o setor, que diz colocarem os trabalhadores nas mãos de máfias.
O trabalhador agrícola do Bangladesh partilha com a que está “há muito tempo” à espera do pedido que já entregou para conseguir a nacionalidade portuguesa: “Já passaram 28 meses e não é decisão, é muito tempo”.
O imigrante relatou que precisou de três anos para ter o título de residência e que, após cinco anos, pôde avançar com o pedido de nacionalidade. Mas, agora, desespera enquanto espera: “Outra vez esperar para a nacionalidade, 28 meses e ainda não há decisão da AIMA e do IRN. É para esperar, esperar, mas não sei quanto tempo esperar. É muito tempo à espera, a família [está] muito cansada, a cabeça muito cansada”.
Mas, quando receber a nacionalidade, os seus planos são claros e não passam por Portugal, mas sim por nova emigração. O objetivo é “ir para outro país com a família”, porque Portugal tem ”salários baixos e falta de trabalho”.
Ao longo de mais de uma hora e meia, a partir das 17:00, os imigrantes, que se foram juntando ao protesto aos pouco, gritaram direitos que querem que lhes sejam reconhecidos e como querem ser vistos.
“Nós não criminal”, “documentos para todos”, “todos trabalhadores” foram algumas das palavras de ordem, enquanto nos cartazes de papelão que empunhavam podiam ler-se frases como “aqui vivo, aqui fico não vou embora”, “direito à habitação”, “a luta continua” ou “mulheres imigrantes, a mesma luta contra a escravatura”.
Em declarações aos jornalistas, o presidente da associação Solidariedade Imigrante, Timóteo Macedo, defendeu que “é preciso haver, efetivamente, vontade política” para resolver os problemas dos imigrantes”.
“Já andamos há muito tempo a lutar. Não aceitamos que estas pessoas sejam discriminadas e sejam o bode expiatório para o falhanço das políticas públicas deste Governo”, disse.
Nesta campanha eleitoral para as legislativas que termina hoje, “os imigrantes querem fazer chegar a sua voz aos partidos para que, efetivamente, discutam a imigração de uma forma séria e honesta”. E, perante o próximo Governo que sair destas eleições, a maior associação de imigrantes do país, prometeu que vai pugnar pela igualdade de tratamento dos imigrantes.
“Vamos avançar para a Assembleia da República para pedirmos audiências ao Governo e aos grupos parlamentares e dizer que as políticas têm que mudar e não podem ser uma passadeira vermelha que se estende à extrema-direita”, defendeu Timóteo Macedo.
Também presente no protesto em São Teotónio, concelho de Odemira, esteve Alberto Matos, que é dirigente da Solidariedade Imigrante e cabeça de lista do BE pelo círculo de Beja.
Perante o olhar de alguns militares da GNR na praça, aqui e ali, alguns habitantes também observavam a iniciativa. Uma das mulheres não se quis identificar, mas sentenciou: “Os nossos vão para lá, eles vêm para cá. Desde que uns e outros se portem bem ninguém tem nada a dizer”.
Fotografia | António Pedro Santos/Lusa-Arquivo