O Museu da Escrita do Sudoeste, em Almodôvar, foi um dos grandes destaques da edição de 2025 dos Prémios da Associação Portuguesa de Museologia (APOM), ao conquistar três distinções numa cerimónia que decorreu no Cineteatro Louletano, em Loulé.
A instituição alentejana foi premiada nas categorias de Museografia e Catálogo, tendo ainda recebido uma menção honrosa na categoria “Projeto e Conteúdos Digitais”, com o trabalho intitulado “Almodôvar, 2500 anos de escrita”.
Os prémios sublinham o contributo do museu na preservação e valorização de um dos mais antigos sistemas de escrita da Península Ibérica, associado à civilização do Sudoeste peninsular, e são atribuídos um ano depois de o museu ter voltado a abrir portas, após obras de reabilitação e ampliação.
Inaugurado a 19 de outubro de 2007, o Museu da Escrita do Sudoeste (MESA) está localizado na Rua do Relógio, no centro histórico de Almodôvar, ocupando o edifício do antigo Cine-Teatro Municipal. Este espaço museológico é dedicado à preservação e divulgação da Escrita do Sudoeste, considerada a mais antiga da Península Ibérica e uma das primeiras da Europa baseada num alfabeto.
A escrita, ainda indecifrada, foi utilizada pelos Tartessos, uma civilização que prosperou entre os séculos VII e V a.C., abrangendo territórios que hoje correspondem ao Baixo Alentejo, Algarve e Andaluzia espanhola.
O acervo do MESA inclui um conjunto significativo de estelas funerárias em xisto, nas quais estão gravados caracteres da Escrita do Sudoeste.
Entre as peças em destaque estão a Estela de São Martinho, encontrada em São Marcos da Serra, no concelho de Silves, e a Estela da Abóbada, descoberta em Gomes Aires, Almodôvar. A primeira é notável pela extensão do seu texto, com cerca de 60 signos identificados, enquanto a segunda é singular por apresentar figuras, sendo uma das poucas com representações iconográficas conhecidas.
Já o projeto “Almodôvar, 2500 anos de escrita” é uma iniciativa que visa promover o conhecimento e a valorização da Escrita do Sudoeste e do património arqueológico associado. Desenvolvido pelo MESA, o projeto inclui a criação de conteúdos digitais, exposições itinerantes e atividades pedagógicas destinadas a diferentes públicos.
Também no Alentejo, a Fundação Eugénio de Almeida, sediada em Évora, foi distinguida com o Prémio Instituição, atribuído a entidades que se notabilizam na promoção da cultura, da museologia e da valorização patrimonial. A fundação tem vindo a afirmar-se como uma plataforma ativa na interligação entre património, arte contemporânea e envolvimento comunitário.
A APOM, que este ano celebra o seu 60.º aniversário, atribuiu um total de 26 prémios, abrangendo áreas como melhor exposição, restauro, coleção visitável, projeto internacional ou investigação. Foram analisadas 125 candidaturas oriundas de todo o território nacional.
O Prémio Museu do Ano foi entregue ao Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, destacando-se, segundo o júri, pela excelência da apresentação da sua coleção, pela visão curatorial e pelo impacto cultural no contexto nacional. Entre os finalistas da categoria estava o Museu Municipal Carlos Reis, em Torres Novas, que recebeu uma menção honrosa.
O presidente da APOM, João Neto, sublinhou que os galardões pretendem valorizar o trabalho dos museus em todo o país, não apenas nas grandes cidades, e reconhecer o empenho dos profissionais que se dedicam à preservação da memória coletiva e à dinamização do acesso à cultura.
Os premiados receberam uma escultura criada por Fernando Quintas, inspirada na obra “Biblioteca Specularis”, concebida para uma exposição realizada em Veneza em 2015.
