A Plataforma é um evento bienal promovido pel’O Espaço do Tempo, estrutura artística fundada em 2000 pelo coreógrafo Rui Horta no Convento da Saudação, em Montemor-o-Novo. Desde a sua criação, tem desempenhado um papel crucial no apoio à criação artística em Portugal, acolhendo artistas nacionais e internacionais em residência e acompanhando o desenvolvimento dos seus percursos.
Destinada à apresentação dos mais relevantes trabalhos das artes performativas portuguesas, a iniciativa reúne em cada edição cerca de uma centena de programadores, curadores e diretores artísticos nacionais e internacionais.
O primeiro dia da Plataforma em Montemor-o-Novo abre às 11h30 com o espetáculo “Inverted Landscapes”, performance de André e. Teodósio para o Teatro Praga. Segundo a organização, “tomando como ponto de partida uma ligação entre Lisboa e Berlim, Inverted Landscapesexamina a história de duas figuras das artes performativas portuguesas que trocaram de geografia em busca de um objetivo artístico comum: Ruth Aswin, alemã, que vem dançar para Portugal nos anos 30 do século XX, e Valentim de Barros, que tinha sido seu aluno e foge para Berlim em busca de trabalho e liberdade”.
Ainda de acordo com a mesma fonte, “os procedimentos de sobrevivência, os seus interesses artísticos inviabilizados por uma história preponderante, são o mote para uma experiência háptica onde serão desencadeadas e ativadas ações que, na sua capacidade de engajamento comunal, oferecem expressões de identidades sem propósitos formatados”.
Às 15h00, sobe ao palco “Aurora Negra”, criação de Cleo Diára, Isabél Zuaa e Nádia Yracema. A organização descreve o espetáculo como “uma celebração das raízes mais profundas e originais de culturas africanas, onde se cruzam crioulo, tchokwe e português, e onde três mulheres se afirmam como protagonistas das suas histórias”. O trabalho, em circulação desde 2020, já foi apresentado em cidades de Portugal, Brasil, Alemanha, Cabo Verde e Angola.
Pelas 18h30, no Cineteatro Curvo Semedo, apresenta-se “Blackface”, de Marco Mendonça. A proposta é descrita como “uma conferência musical, entre o stand up e a fantasia, entre a sátira e o teatro físico, entre o burlesco e o documental”. Através de experiências pessoais e da história do blackface, o criador “procura os limites do que pode, ou não, ser representado num palco” e questiona: “será possível achar que não existe racismo em Portugal?”.
O dia termina às 22h00, na Praça de Touros de Montemor-o-Novo, com “Norma”, de Diana Niepce. Trata-se de uma criação de dança, circo e performance em site-specific. Segundo a organização, “a peça inspira-se no texto Sobre o Teatro de Marionetes, de Heinrich Von Kleist, e reflete sobre o contexto de eugenia portuguesa, em particular sobre a institucionalização de pessoas fora da norma no extinto albergue da Mitra”.
Ainda de acordo com a mesma fonte, “o corpo é observado enquanto experiência única, na dualidade de um espaço gravitacional e de um espaço sem gravidade”, convidando o público a refletir sobre “práticas de exclusão e marginalização de comunidades fora da norma”.
A PT.25 prolonga-se até 14 de junho, com mais espetáculos e encontros previstos para Montemor-o-Novo.
Fotografia | “Aurora Negra”, de Filipe Ferreira/D.R.