“É um documentário para não ciganos, para que fiquem a saber o que a comunidade sofreu e não para ciganos, porque iria gerar revolta”, começa por dizer com alguma ironia Luís Romão, presidente da Associação Sílaba Dinâmica perante a plateia que hoje visionou o filme em Torres Vedras.
O documentário feito pela associação de Elvas, intitulado “500 anos de leis repressivas”, tem a duração de 20 minutos e conta a história de uma família cigana que se pretende instalar em Portugal na esperança de encontrar um lugar seguro.
Neste percurso, encontra a hostilidade das ordens de expulsão, as dificuldades de comunicação entre o português e o romani ou a proibição de utilizar os seus trajes.
O objetivo era “anular a identidade cultural cigana visando a assimilação”, conclui o narrador no filme, acrescentando que “falar romani era um ato perigoso que resultou em punições” como açoitamentos severos em público e “até a língua podia ser cortada” no que era um aviso aos que pretendessem manter as tradições.
Para contornarem a lei falavam em grupo, o que reforçava os seus laços e assumia uma forma de resistência.
O documentário mostra ainda como estas comunidades foram empurradas para “as margens das cidades” onde, apesar disso, puderam sobreviver e preservar algumas tradições como a música.
“O que pretendemos é fazer uma recriação das leis repressivas com algum realismo para ajudar a perceber, sobretudo decisores políticos, técnicos e professores o que aconteceu nos últimos 500 anos e de que forma poderíamos criar reflexões sobre medidas reparatórias para essas leis repressivas”, explica Rui Salabanda Garrido, responsável da associação e ator no filme.
Uma das medidas reparatórias que “nós consideramos muito importante era o ensino do romani, como forma de reparação dessa proibição que fez com que as pessoas praticamente não falem o romani, lançamos esse repto”, desafiou Rui Salabanda Garrido, o único não cigano da associação.
O presidente Luís Romão destacou que o objetivo da associação é mostrar “de formas diferentes” a história e cultura ciganas: “Trabalhamos com a Agência para a Integração Migrações e Asilo [AIMA], concorremos a fundos que nos permitem andar a nível nacional a apresentar este documentário sobre leis repressivas, mas já tivemos uma peça de teatro”.
Nesse caso, a “História do Ciganinho Chico” levou, num conto, a história e a cultura cigana a crianças de todo o país através de uma peça de teatro animada. Nessa peça mostrámos a nossa história e tradições, esse é o nosso objetivo, de formas diferentes, através do teatro e neste caso do documentário, mostrar a realidade das comunidades ciganas”, adiantou.
O documentário já foi apresentado no Porto, Figueira da Foz, Portalegre, Borba, Elvas e Torres Vedras.