“Os números que temos relativamente, por exemplo, ao fecho de maio, indicam que o mercado dos Estados Unidos é praticamente em 2025. Uma das razões prende-se com a instabilidade profunda que conhecemos e que estamos a viver”, declarou o responsável, em entrevista à “Alentejo Ilustrado”.
Segundo Luís Sequeira, o mercado norte-americano “não é uma prioridade para a CVRA, o que não quer dizer que seja despiciendo de forma alguma”. No entanto, sublinhou que, para este ano e para os seguintes, não fará “muito sentido estar a investir em termos promocionais num mercado que está em evolução, que está em transformação, não sabemos exatamente em que direção”.
O presidente da CVRA reconhece que os Estados Unidos representam “um mercado com enorme potencial”, a que a Comissão estará “muito atenta”, mas acrescenta que é necessário perceber primeiro “onde é que param as modas, o que é que vai acontecer, para então sim desenharmos uma estratégia que seja concentrada com a nova realidade”.
Luís Sequeira acrescenta ainda que estas reflexões estão a ser enquadradas no novo plano estratégico da CVRA. “Tudo isto está, como digo, a ser refletido em termos de um plano estratégico e estamos nós próprios a questionar os agentes económicos sobre o que necessitam para aumentar a exportação”, explica.
O presidente dos Vinhos do Alentejo considera negativo o agravamento alfandegário de 15% que vai existir na exportação de produtos vinícolas da União Europeia para os Estados Unidos, mas saúda o fim da incerteza. “Esta conclusão do processo tem duas leituras. Uma primeira necessariamente negativa, porque, como é evidente, todos nós aguardávamos, ainda com alguma esperança, a possibilidade do zero/zero, ou seja, das taxas zero à entrada nos Estados Unidos”, afirma.
A outra leitura, refere, é que apesar de tudo, [o acordo] pode ser visto como um mal menor”, pois. “pelo menos agora”, o sector tem “alguma certeza e um número” que “qualquer operador terá conhecimento e poderá incorporar nas suas estratégias”.
A Comissão Europeia falhou na obtenção da isenção alfandegária para os produtos vinícolas no acordo que fechou com os EUA, reivindicada especialmente por Itália e França. “Infelizmente, não conseguimos”, disse esta quinta-feira o comissário para o Comércio e Segurança Económica, Maroš Šefčovič, em conferência de imprensa em Bruxelas (Bélgica).
A isenção de tarifas para as exportações de produtos vinícolas era reivindicada particularmente por Itália e França, mas não consta nos detalhes do acordo entre o bloco político-económico europeu e Washington. Tal como a generalidade dos produtos da UE, o vinho vai sofrer um agravamento alfandegária de 15% para entrar no mercado dos EUA.
Neste caso específico das tarifas, o presidente da CVRA insiste na importância de existir “uma noção concreta” sobre o valor que iria ser aplicado, o que agora já se sabe: “Desejavelmente teria sido o zero, mas temos 15% e, portanto, agora podemos desenhar as nossas estratégias em função disso”.
A incerteza dos últimos tempos em torno das tarifas alfandegárias já deixou marcas no setor dos vinhos no Alentejo, segundo Luís Sequeira, pois, “no primeiro semestre [deste ano] as vendas caíram a pique para os Estados Unidos”.
“No passado, a antecipação da aplicação das tarifas gerou, porventura, um movimento de compra talvez superior àquilo que seria o normal e, agora, temos não só o reflexo dessa situação, como também toda a incerteza que, ao longo deste ano, vivemos praticamente até hoje, não é? E isso tem um impacto muito visível, que é uma redução significativa do volume de negócios”, conclui.
Fotografia | Cabrita Nascimento/Arquivo