Francisco Alvarenga texto | Gonçalo Figueiredo fotografia
Do Poço Velho a Vilar Formoso são pouco mais de oito quilómetros. A estrada delimita a fronteira entre Portugal e Espanha. Apesar da presença da polícia política e dos militares da GNR e da Guarda Fiscal, apesar da vigilância permanente, foi por aqui que milhares de jovens deram “o salto”, partindo para o exílio nas décadas de 60 e 70 do século passado.
Passados mais de 40 anos, cinco regressam aos trilhos do salto para reviver o momento em que a Guerra Colonial os empurrou para longe da família e dos amigos, para longe do país, num retorno acompanhado por este documentário, realizado por Luís Godinho, com o apoio da Associação de Exilados Políticos Portugueses (AEP 61/74).
Depois de exibições em vários locais do país, na Suíça e em França, locais de destino do exílio português, “Trilho do Poço Velho” está agora em exibição na Alentejo Ilustrado.
Co-produção da ALD Produções e da Setespinhas, com direção de fotografia de Bruno Lino Vassalo, produção de Fernando Cardoso, produção executiva de Ana Luísa Delgado e locução de Susana Sá, o documentário conta a história de Arnaldo Silva, Joaquim Nunes, Romeu Batista, Joaquim Saraiva e José Morais, cinco histórias de vida dos milhares de desertores e refratários do exército colonial português.
“Em toda esta região de fronteira, o terreno plano, de areias e argila, facilita a circulação. É por isso que o Trilho do Poço Velho foi uma importante rota do contrabando, também utilizada por quem decide “dar o salto”, por razões económicas (para fugir à miséria), ou por motivações de natureza política”, refere o realizador, acrescentando que de todos os protagonistas deste filme, apenas José Morais continua a residir no estrangeiro, em Genebra.
“Com ele percorremos um caminho sinuoso: de um lado um curso de água, a Ribeira do Campo, do outro muros de pedra delimitam as pequenas propriedades onde se pratica uma agricultura de subsistência. As amoras silvestres estão doces. Foi por aqui que José Morais e Joaquim Nunes fugiram aos militares da Guarda Civil espanhola, iniciando uma viagem a pé até Salamanca, marcada por vários perigos”, desvenda o realizador, sublinhando que José Morais, embora continuando a viver na Suíça, “foi dos primeiros a regressar depois do 25 de Abril, tendo chegado a Lisboa naquele que ficaria para a História como o comboio dos exilados”.