Jorge Araújo: “Alandroal: o despontar do futuro”

A opinião de Jorge Araújo, professor emérito da Universidade de Évora

O desenvolvimento pode suscitar-nos duas leituras consoante o software mental que usarmos: ou alinhamos com os pessimistas e o “copo” afigurar-se-nos-á irremediavelmente “meio vazio”, ou, ao invés, reconhecemos, numa perspetiva otimista, que embora o “copo” não esteja cheio, dá sinais de vir a encher.

Eu sou otimista e, portanto, apraz-me vislumbrar, no Alentejo pelo qual me apaixonei, uma derivada positiva. Dizem que o amor é cego…

O Alandroal é um daqueles concelhos onde o Alentejo acaba e a Espanha começa: o interior profundo sulcado pelo Guadiana, terras de sobro e azinho, de estevas e loendros; ou alandros, cuja madeira se oferece, dócil ao artesanato local… razão de se chamar Alandroal.

Alandroal é também um povoado antigo, cujas origens se perdem na bruma da história. Ao concelho foram adicionados, no século XIX, os territórios de antigos municípios de Terena e Juromenha. Cada vila ostenta um castelo altaneiro, orgulhoso do contributo que deu para a consolidação da Pátria.

O progresso é ingrato e corrobora o adágio popular segundo o qual “longe da vista, longe do coração; e o Alandroal, apesar dos seus pergaminhos régios, está bem longe. Os fatores de progresso económico e social, difundidos através das débeis artérias e capilares que se estendiam pelo território, chegavam aos seus campos e povoados, já em perda de viço.

Com o fecho das minas e o fim do contrabando, a vida foi abrandando o seu ritmo de decénio em decénio; e o povo foi sumindo. Nos cerca de 543 quilómetros, restam pouco mais de cinco mil habitantes (para termo de comparação, recordemos que a sala principal do MEO Arena tem capacidade para 20 mil pessoas).

O Alandroal ilustra bem um daqueles casos em que um pessimista não auguraria grande futuro. E, contudo, ele desponta como se, de uma planta moribunda, brotassem pequenos gomos. Para quem estiver atento aos sinais vitais, aperceber-se-á de um recrudescimento das atividades económicas, acionado principalmente pelo turismo que encontra nos patrimónios histórico, cultural e natural, os fulcros possíveis para alavancar o desenvolvimento.

A gastronomia de excelência focada nos peixes do rio e associada à pesca artesanal, o lazer que as margens do Guadiana proporcionam nos muitos dias tórridos, a descoberta da natureza luxuriante que o mítico Lucifécit evoca, os patrimónios histórico e cultural que testemunham séculos de passado e o artesanato que nos remete para a cultura popular da mais remota origem, são “pontos de apoio” que João Maria Grilo, biólogo e professor, mas também “filho da terra” e, por agora presidente da Câmara Municipal, sabe conjugar com os fundos comunitários.

Mas não só de turismo se faz o futuro do Alandroal. Novas indústrias espreitam novas oportunidades. É o caso da produção de hidrogénio verde, o petróleo do futuro, que terá no Alandroal um dos seus assentos. A localização, no Alandroal, de uma das paragens da via férrea internacional, abrirá indubitavelmente novas perspetivas. Não percam a sopa de peixe e uma banhada no Guadiana!

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