Centrais solares “ameaçam” habitats e paisagens rurais do Divor

Está criada uma plataforma cidadã para lutar contra a instalação de duas centrais fotovoltaicas junto à barragem do Divor. Entre os subscritores encontra-se o Grupo Pro-Évora e o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, José Santos.

Foi a Alentejo Ilustrado quem primeiro noticiou as críticas de moradores à instalação de duas centrais fotovoltaicas junto à Barragem do Divor:

Ler mais: Moradores criam plataforma para travar projetos fotovoltaicos no Divor

Agora, o Grupo Pro-Évora anunciou a constituição de uma plataforma cívica, formada por cidadãos, empresas e entidades públicas, destinada a lutar contra a “ameaça” destes projetos para o ambiente e para as atividades turísticas instaladas no território.

“Temos o direito e o dever de tudo fazer para impedir que estes projectos, com esta localização, possam ser realizados. Está ameaçada uma parte substancial da paisagem rural da bacia do Divor, habitat de múltiplas espécies, com uma beleza muito peculiar e habitada por centenas de famílias que procuram no campo a arte de viver e uma qualidade de vida que não pode nem deve ser destruída”, diz a plataforma cidadã, em comunicado, considerando que, a concretizarem-se, os projetos “provocarão danos irreversíveis na geomorfologia, na fauna, na flora e no enquadramento do património histórico- arqueológico, que nenhuma medida de minimização poderá colmatar”. 

Os subscritores do documento lembram que o processo começou com a decisão da Rede Elétrica Nacional (REN) de instalar junto ao bairro dos Canaviais, próximo de Évora, uma subestação de muito alta tensão, denominada Subestação do Divor, “que permitirá ligar à rede cerca de 500 megawatts de capacidade fotovoltaica”. 

Esta capacidade foi posta em concurso público, do qual resultou o surgimento da intenção, até à data, de instalação na zona de duas centrais fotovoltaicas de grandes dimensões, contíguas, ocupando uma área total de cerca de 650 hectares. 

Ainda de acordo com a plataforma cidadã, os relatórios da Comissão de Avaliação Ambiental demonstram “o elevado potencial arqueológico e a sensibilidade da área afectada, considerada paisagem cultural rara, bem como os níveis cénicos elevados ou muito elevados da qualidade visual da paisagem. Algo contraditoriamente, afirma-se a também elevada probabilidade de ocorrência de impactos diretos sobre este património cultural e consideram-se os impactos negativos cumulativos do projecto significativos e muito significativos em termos de artificialização da paisagem, criando mesmo uma desordem visual”. 

Entre outros fatores gravosos, prossegue, há 41 espécies da fauna local “que têm elevado estatuto de ameaça, classificadas como criticamente em perigo, em perigo ou vulneráveis”, pelo que lamentam a aprovação ambiental dos dois projetos, ainda que “escudada em mil e uma condicionantes”. 

Moradores e empresários, entre os quais António Maçanita (enólogo e produtor de vinhos) e Teresa Villas-Boas (da Turaventur, uma das primeiras empresas de turismo de aventura na região), dizem que estas megacentrais solaras, a serem construídas, “irão enfraquecer e, em algumas vertentes, inviabilizar o desenvolvimento assente nos recursos paisagísticos, patrimoniais e culturais desta zona”.

E lembram que associado à proximidade da aldeia da Graça do Divor, das antigas pequenas quintas, da vila de Arraiolos e da cidade de Évora, “o setor do turismo, que se apoia nas artes e ofícios tradicionais, na gastronomia regional, em unidades de alojamento de qualidade e em experiências e actividades de turismo de natureza, de turismo cultural e de enoturismo, não é compatível com a floresta de vidro que vai agredir o olhar de todos os que vivem e passeiam nesta zona”.

“Não queremos caminhar na ecopista com vista sobre painéis solares. Não queremos subir ao Cabeço dos Mouros e ver uma extensão imensa de módulos fotovoltaicos. Não queremos nem podemos afastar quem aqui habita e quem nos visita por termos deixado de ser quem somos. Queremos continuar a ser Alentejo. Queremos defender a paisagem e o património do Divor”, acrescenta a plataforma cívica.

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