Nuno Mourinha: “Revolução (à) francesa”

A opinião de Nuno Mourinha, arqueólogo

A tentação de seguir o pior caminho não é inevitável. Uma clara maioria de franceses rejeitou o pior da política, votando contra os mais de dez milhões de concidadãos que apoiaram o Rassemblement National (RN). No entanto, este número, por si só, impede-nos de sentir mais do que uma fugaz sensação de alívio.

Apesar da vitória nas eleições europeias e do bom resultado na primeira volta das legislativas, esta drástica mudança de tendência deve-se não só à eficácia da frente republicana, mas também à decisão inconsequente de Emmanuel Macron de dissolver a Assembleia Nacional. 

Sim, o RN continua a ser um partido de extrema-direita, com uma ideologia impregnada de xenofobia. Durante esta campanha, a máscara caiu, expondo candidatos anti-semitas, racistas e homofóbicos, sem preparação para os cargos que procuravam. Revelou-se também uma plataforma política centrada na discriminação, estigmatização e rejeição de grupos inteiros de pessoas. 

Nos últimos anos, novos eleitores, idosos e membros dos círculos dirigentes foram enganados por estas falsas pretensões. Acabaram por acreditar na aparência confiável de Jordan Bardella, o jovem representante do clã Le Pen. 

A decisão de Macron resultou na per- da de quase 100 lugares para a sua coligação presidencial, agora ultrapassada pelo Nouveau Front Populaire (NFP), que, com 182 deputados, está bem posicionado para influenciar o governo. Os socialistas, grandes vencedores com 59 lugares, juntamente com Verdes, Comunistas e ex-membros do França Insubmissa, podem agora contribuir para uma abordagem política mais moderada e colaborativa.

Com a nova configuração da Assembleia e uma maioria ainda por construir, há uma oportunidade de implementar políticas mais justas, abordando questões como saúde, educação e redução das desigualdades. É crucial evitar que a extrema-direita monopolize o apoio dos descontentes, respondendo às necessidades reais da população. 

Macron deve permitir que o centro-esquerda defina a agenda política. Durante a campanha, líderes como Marine Tondelier, dos Verdes, surgiram como alternativas progressistas promissoras. Algumas propostas do NPF, como o aumento do investimento na saúde e edu- cação, oferecem uma via proativa para enfrentar a direita radical. 

A Frente Republicana manteve-se firme, mas a política francesa não pode continuar a depender apenas dela em situações extremas. Em tempos voláteis, é essencial seguir um caminho progressista e inclusivo para garantir liberdade, igualdade e fraternidade. 

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