O arranque será esta tarde (entre as 15h00 e as 18h00) no Jardim Público de Alcáçovas, com “Lungo Drom”, um museu nómada criado pela companhia portalegrense Um Coletivo, que amanhã, dia 3, poderá ser visto no Parque Infantil de Évora, entre as 10h00 e as 18h00. Na sua quarta edição, o Rascunho terá circo contemporâneo e fado sapateado, além de espetáculos mais intimistas.
Percorremos a programação numa entrevista com Vanda R Rodrigues, diretora artística e coordenadora do projeto, numa conversa que começa e encerra com as origens do Rascunho, pensado em tempo de pandemia e que continua a fazer todo o sentido, em tempo de continua precariedade para os profissionais das artes performativas. Nesta edição, como sublinha Vanda R Rodrigues, talvez até seja “mais pertinente do que deveria”.
Qual a ideia do Festival Rascunho?
Surgiu num contexto de pandemia, por isso é que se chama Rascunho… estávamos sempre com a agenda a ser reescrita devido às autorizações para fazer eventos. Surgiu neste contexto, é como um espelho da instabilidade daqueles tempos da covid-19. Depois, com o passar do tempo continuou a fazer sentido porque a precariedade que está ligada às artes performativas e aos trabalhadores da cultura faz com que a nossa vida seja nesta ótica de estar sempre a refazer os planos. Este ano continuou a verificar-se a sua pertinência porque tínhamos o espetáculo de inauguração marcado para a Praça do Giraldo, com uma grua de seis toneladas para sustentar o espetáculo de circo, estava autorizado há imenso tempo, e entretanto a rua por onde a grua iria passar entrou em obras, a poucos dias do festival começar… o Rascunho começou até a ser mais pertinente do que deveria ser (risos).
Quais os destaques da programação deste ano?
Posso começar por destacar, justamente, esse espetáculo de circo, “Blue”, da Margarida Monteny [dia 4, 18h30, junto à Arena d’Évora], porque é um espetáculo de circo contemporâneo muito intimista… é quase paradoxal dizer que se tem um espetáculo muito intimista quando se tem uma grua com uma pessoa pendurada a nove metros, mas é-o de facto. Numa das pontas da corda está a artista, e na outra estão outras três artistas que continuamente estão a puxar a corda e ela está sempre em movimento, mas sempre no mesmo sítio. É um espetáculo muito bonito, que estreou no Teatro Rivoli [Porto] em dezembro.
Haverá também fado…
Será no dia seguinte, dia 5, no Largo da Igreja de São Vicente (21h30), com “Resgate”, do Jonas e do Lander, que são artistas que agora vivem em Montemor-o-Novo… o Jonas até esteve no Festival da Canção, é bailarino, mas também tem uma carreira no fado. Eles rebuscaram uma dança ancestral de fado, que é o sapateado e, então, os concertos têm essa vertente de rebuscar este fado batido, mas com uma vertente muito contemporânea, uma dança até bastante frenética. Estes serão os dois espetáculos grandes, de praça, da edição deste ano do Festival Rascunho.
Para quinta-feira, dança com Melanie Ferreira.
Será o dia de encerramento, com dois solos, que acontecem no Jardim Público – “Deitamos Flores do Ladro de Dentro”, de Melanie Ferreira, e “O que já cá está”, de Bernardo Chatillon. Deixe-me também referir que nesta edição vamos, pela primeira vez, à vila de Alcáçovas, com um projeto muito interessante de Um Coletivo, uma companhia de Portalegre, chamado “Lungo Drom”. Estes estiveram a trabalhar nas escolas do concelho de Elvas com crianças da comunidade cigana em objetos que pensam as questões relacionadas com os preconceitos. Esse trabalho transformou-se num museu móvel, um carro que chega aos sítios e tem um mediador que, enquanto apresenta os objetos, vai falando sobre estas questões, estes preconceitos, na esperança utópica de os desfazer a todos.
Criado durante a pandemia, qual tem sido o percurso do Festival?
Era para ser apenas um ciclo do Artes à Rua… o Luís Garcia, programador do Artes à Rua, convidou-me para fazer um ciclo de artes performativas, inicialmente seria só isso. Mas, por causa da covid-19, o Município cancelou o Artes à Rua e nós decidimos continuar a fazer o Rascunho, convencidos que a coisa iria ficar por ali. Já estamos na quarta edição. Acho que faz mesmo muito sentido no contexto em que se encontra, na cidade de Évora, por começar sempre em praças grandes e com espetáculos mais acessíveis, num movimento de criação de novos públicos, terminando em espetáculos mais pequenos, mais específicos.
E faz sentido, como disse, também ser realizado em Évora. Porquê?
Numa cidade como Évora faz muita falta haver programação artística na rua, não numa ótica dos turistas, acho que devemos programar para a comunidade local. Claro que os turistas têm uma ocupação pontual do território, mas enquanto programadora não me preocupo, de todo, com isso. O percurso do Festival tem sido tentar cumprir com o que vai resultando dos anos anteriores.