É sabido que a posição oficial do Estado português sobre Olivença é de não reconhecer a legalidade da administração espanhola ali exercida. Abundam declarações nesse sentido (2007, 2011, 2014), a Ponte da Ajuda, entre Elvas e Olivença, concluída em 2003, é exclusivamente portuguesa, e os mapas oficiais nunca mostram linha de fronteira internacional diante de Olivença e há também reflexos na questão da posse das águas do Alqueva.
Pode considerar-se que as declarações de Nuno Melo não vieram a propósito. Mas o Estado português deveria ter esclarecido a sua posição de princípio, corrigindo, quanto muito, a assertividade de Nuno Melo, e nunca obrigá-lo a “recuar”.
Ninguém está a pensar em espoletar um conflito sério, nem sequer prejudicar as relações luso-espanholas. Esta posição de Lisboa não tem tido repercussões. E muito menos prejudicar a recuperação da cultura portuguesa em Olivença.
Algumas reações, todavia, chocam. Por exemplo, algumas tomadas de posição espanholas, principalmente no que toca à afirmação de que “o tempo destas reivindicações ter passado a simples memória”, e o da “vontade das populações”. Como Madrid reclama Gibraltar desde 1713, a diz nada lhe interessar que 99,9% da população seja pró-britânica, só se podem acolher estas argumentos com um sorriso.
Talvez o que mais se estranhe seja a reação de muitos opinadores portugueses, de somente ridicularizarem o episódio. Nem sequer se analisam as razões, justas ou não, da posição oficial portuguesa… o que é imperdoável. O que importa é ridicularizar a questão de Olivença.
Uma reflexão me ocorre: Timor teve “sorte” por ter sido ocupada por um país longínquo. A coragem e a defesa de princípios não tiveram entraves, e a opinião geral era de apoio aos timorenses. Sabe-se lá o que defenderiam os comentadores se Portugal estivesse próximo da Indonésia.
Mas é melhor não desenvolver esta lógica, e retomar o fio à meada.
Voltemos a falar da ridicularização. Ele reflete, creio, o olhar pessimista que muitos portugueses têm sobre o seu próprio país. Chega-se a dizer que Olivença só ganha em ser espanhola, pelo desenvolvimento que tem. Bastaria a estes opinadores ler, por exemplo, a “História da Extremadura”, de 1993, onde se lê:”Em 1801, a Extremadura ver-se-ia aumentada com a cidade de Olivença – então tão rica e povoada como Badajoz (SIC)”, para se perceber como a sua lógica se baseia em preconceitos, e não em factos.
Talvez o contexto das afirmações de Nuno Melo estivesse errado. É provável. Mas Portugal não irá longe com comentários que revelam um tão profundo desprezo pelo que ele próprio é. Haja paciência!