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A arte de bem trabalhar o ferro

Começou por “curiosidade”, tomou-lhe o gosto e não mais parou: a arte de Manuel Fontainhas é a de bem trabalhar o ferro. Até em esculturas de grandes dimensões.

Francisco Alvarenga (texto) e Gonçalo Figueiredo (fotografia)

Conta Manuel Fontainhas, 55 anos, que foi a curiosidade que o levou a trabalhar o ferro. Primeiro a pedra e a madeira, depois o ferro. “Ainda fiz algumas peças em mármore, mas poucas”. Depois, bem, depois foi experimentando o ferro, numa altura em que “havia aí muita decoração por fazer, as pessoas compravam muito”. Candeeiros, camas, cadeiras, mesas, peças utilitárias procuradas pelos “novos alentejanos” que se começavam a instalar na região. É verdade que o pai também deu uma ajuda, “era serralheiro, mas eu nunca quis aquele tipo de trabalho”, mais especializado em portas ou gradeamentos. “Fui por outro caminho”.

Enquanto avançava com o fabrico de peças utilitárias aproveitava para experimentar outros caminhos, para desenvolver uma vocação mais artística, esculturas feitas em ferro que, por sinal, até é uma material “desafiante”, em que o limite está na capacidade criativa de cada um. “O ferro é muito elástico, dá para fazer tudo… a gente põe, vai por um caminho, volta a fazer. Começo a executar uma ideia, depois percebo que não é bem aquilo que pretendo e há sempre a possibilidade de cortar, voltar a montar, voltar a fazer”, refere Manuel Fontainhas, garantindo que, bem vistas as coisas, o ferro “até oferece mais possibilidades que a madeira ou a pedra”.

E, sim, é mesmo a componente artística aquela que mais valoriza, a que mais lhe interessa desenvolver. No restaurante Cadeia Quinhentista, em Estremoz, são suas diversas peças, do balcão às mesas e cadeiras. “Foram peças desenhadas por um arquiteto e feitas por mim”. Sendo que as suas próprias criações, por norma, não surgem de um desenho prévio, vão nascendo à medida que são moldadas. “Imagino-as e vou fazendo. É muito raro pôr em desenho. Vou pensando nelas, executando e a verdade é que nunca acabam como foram idealizadas, muda muita coisa”.

É como se as peças fossem ganhando vida. “As coisas vão aparecendo, dá-me muito gosto imaginar a peça e depois vê-la terminada pois até na fase de construção vamos aprendendo com os desafios que temos de superar. Utiliza-se uma técnica, depois outra porque aquela não está a funcionar muito bem… no fundo, é como sucede em todos os trabalhos artísticos, todos têm os seus problemas que a experiência ajuda a superar”.

A sua arte, essa, pode também ser vista por aí, em espaços públicos. Conjuntamente com o colega Jorge Frazão terminou recentemente a escultura de um lagostim em ferro, de grandes dimensões, colocado na praia fluvial das Azenhas d’El Rei, em Montejuntos (Alandroal). 

Falamos de uma peça a três dimensões, em ferro, com cerca de três metros de comprimento e uns 270 quilos de peso. “Se fosse só a silhueta teria sido muito mais simples de executar, seria só cortar. Estas peças em três dimensões exigem muito mais trabalho, as proporções têm de ser as corretas, é preciso manter alguma coerência para que uma pessoa, ao olhar para a peça, perceba o que está a ver”. Neste caso foram dois meses de trabalho. Concluído o lagostim, os dois andam agora às voltas com uma libélula, também a três dimensões, e com um outro projeto, ainda mais desafiante, para uma escultura com cerca de seis metros de altura. “Não posso contar pormenores”, refere.

Em outubro do ano passado foi inaugurada outra das suas peças de arte pública. O monumento “Redondo é Música”, colocado numa das entradas da vila, foi uma criação da artista Helena Parreira, mas a estrutura em ferro, uma enorme nota de música, essa conta com a assinatura de Manuel Fontainhas, tal como são suas as três três silhuetas de jogadores de râguebi, colocadas em Juromenha. “Todos os dias vamos aprendendo”, conclui.

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