Em anos de intervenção social e educativa a partir das organizações que ajudei a criar e a desenvolver, sempre tivemos nas juntas de freguesia um interlocutor para os projetos que coordenei, ou em que participei e ajudei a desenvolver.
À medida que o mundo rural se ia demograficamente exaurindo ou envelhecendo, que o declínio institucional se acentuou e o capital social das pequenas comunidades rurais empobreceu, lá estava a junta de freguesia, como uma espécie de último reduto.
Bem sei que algumas foram arrastadas por esse declínio e muitas tornaram-se principalmente reativas ou alinharam no lamento, ou no carpir das mágoas, numa postura mais fatalista ou resignada. Mas, pelo meio, ouviram até dizer a ministros ou outros responsáveis da Administração Central que as aldeias eram para morrer e muito pouco se poderia fazer para o contrariar, uma espécie de profecia que, poucos anos depois, culminaria com a supressão e anexação de algumas, no “ir além” da ‘troika’.
Mas, mesmo neste quadro, muitos que a elas presidiam ou que para elas trabalhavam recusaram-se a aceitar tão desgraçado e deplorável vaticínio, e, em contravapor, defenderam a permanência dos correios ou a continuidade da escola, por exemplo. Às vezes até contra a vontade do Município, houvesse ou não diversidade de cores políticas. Até porque tal estava de acordo com o que vinham a fazer os mais proativos presidentes de Junta, para não cair no vazio institucional.
Quanto foi necessário criar as instituições particulares de solidariedade social para cuidar e acolher os mais velhos, os homens e mulheres da Junta lá estavam para as criarem, acompanhados de muitos outros membros da comunidade. Muitas, hoje, acolhem não só os seus como os que vêm de outras aldeias, vilas e cidades, num serviço que é, afinal, de toda uma região.
Julgo que, por isto e por ou- tras coisas que aqui não cabem hoje, a máxima de perceção dos problemas por quem está próximo para os procurar resolver como se deve, se aplica por inteiro às juntas de freguesia, o patamar dito “mais abaixo” do Poder Local.
Quando, um dia, alguém por propósitos conhecidos, resolveu suprimi-las ou anexá-las não pude deixar de o lamentar. Aqui por este nordeste do Alentejo, cortando a régua e esquadro, anexaram São Julião e Reguengo, uma encostada a Espanha, lá do outro lado da Serra, e outra no sopé à beira da planície, com o cume e montanhas adjacentes pelo meio e a distanciá-las quase 20 quilómetros, por estradas às curvas e de sobe e desce.
Assim como lastimo o que agora se passa para reabilitar algumas. Primeiro pela burocracia do processo – que demoveu comunidades para a sua restauração – e pela morosidade em que por muito tempo o manteve em banho-maria. Como se tudo isto não bastasse, agora invocam-se argumentos do jogo político, para o continuar a protelar. Sem negar o jogo político que a este nível da administração também possa existir, olhe-se para cima, que aí deve haver muito mais desse jogo que, aparentemente, não atrapalhou decisões, não protelou e levou até a decidir rápido demais.