Abílio Amiguinho: “Essa coisa dos rankings…”

A opinião de Abílio Amiguinho, professor jubilado do ensino superior

Estranha o título? Vou tentar explicar. Refiro-me ao das escolas, de novo à baila por estes dias. Têm já uma longa história, mas sobre a qual pouco parece ter-se refletido e, assim, decidir sobre a sua utilidade.

Ao início, era, pura e simplesmente, cada jornal a pegar nas notas dos exames do 12.º ano, e fazer o seu ranking. Mas, mesmo assim, logo vieram os que, sob a capa da transparência e da sacrossanta prestação de contas, saudar as publicações. Enviezavam mais do que informavam, mas continuaram a fazer valer os seus propósitos. E Governos sucessivos dispuseram-se a prestar mais informações com o intuito de corrigir as distorções das notas dos exames como critério único.

Pelo meio houve avaliações de escolas, através, principalmente, de critérios de aferição, como o meio sociocultural, a natureza do vínculo e carreira dos professores, a heterogeneidade e diversidade das turmas, a inserção num determinado território. Algumas viraram os resultados de pernas para o ar, considerando as melhores escolas as piores dos rankings. Particularmente num esforço organizacional e profissional para obter resultados com públicos e em contextos onde não faltam dificuldades que é preciso superar.

Quase nunca tal foi objeto de notícia ou de reportagem que, de repente, retirava o protagonismo aos jornais, para o dar às escolas. Era mais difícil dar-lhes a palavra, observar, ir às fontes e aos locais onde está a acontecer. Depois o mercado educativo, que tudo parece querer dominar, fez o resto e quem notícia ou reporta também não lhe é indiferente.

E assim chegamos a mais um ano com mais do mesmo. Os privados exultando e as escolas públicas não resistindo a entrar no jogo dando importância ao que não tem. Algumas ufanando-se, outras lamentando-se cá para baixo num campeonato que quase que as coloca abaixo da segunda divisão.

Consternado ficaram os colegas da Escola Secundária onde comecei por trabalhar aqui em Portalegre, por terem visto todo o seu esforço e empenho deitado abaixo, trabalhando com o seu público específico, cujos resultados não o desmerecem. Ainda que por outros rankings pareça não haver tantas razões para isso.

Pois bem ou pois mal. Coisas… São o que não se sabe bem o que são e para que servem. Mas sempre alguém tira proveito delas. E isso creio que se sabe exatamente quem é. Haja quem tenha a coragem de acabar com isto. Só interessa aos que reputam de melhores e desencorajam os supostamente piores.

Melhor fora que avaliassem quem vinga no ensino superior por estar melhor preparado. Os poucos estudos que existem clarificam quem é melhor, afinal. Normalmente quem vem do público e não do privado! Bem tenta o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas, Filinto Lima, trazer este pertinente assunto à discussão, cada vez que é entrevistado sobre os rankings. Em vão, dado que só aceitam que ele fale das coisas que “são” a notícia e não deveriam ser. Nem mesmo o canal público de televisão escapa a esta saga.

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