Escrevo do nordeste alentejano, mas é de Évora, dos seus estudantes universitários, ao tempo do recém criado Instituto Universitário de Évora (IUE) que hoje escrevo. Vem isto a propósito do segundo encontro dos “sementeiros”, novamente no 1o de Dezembro, próximo passado, fazendo-o num dia em que Évora também o come- mora, por razões bem conhecidas. Porquê “sementeiros”? Ou de onde vem esta designação?
“Semente” era a revista cultural da Associação de Estudantes do então Instituto Universitário de Évora, cuja criação e publicação por quase uma dezena de números, se confunde com a praticamente tirada a ferros daquela.
Era o ano letivo 1976/77 e, já no 2.º ano de sociologia, tinha acabado de entrar no IUE. Fiz o 1.º ano na então Bento de Jesus Caraça, dirigida por Abílio Fernandes. Vivíamos o início da chamada normalização, mas não o fim do fervor revolucionário, ou daqueles dois anos de imparável movimento e de participação popular únicos, por mais que alguns o tentem desvalorizar ou denegrir.
Foi este o quadro geral e local que ainda hoje considero o mais formativo da minha vida pessoal e profissional. Entre estudantes, uns mais novos e outros mais velhos, com antecedentes políticos e cívicos diversos, construímos a nossa escola paralela a par da frequência universitária. Era o tempo em que não havia impossíveis como alguns de nós recordaram neste encontro. E assim foi, mesmo que no regime de instalação houvesse quem considerava não se justificar uma Associação de Estudantes (AE).
Para nós era justificada não só pelas razões que fundaram o associativismo estudantil. Na onda que agitou a cidade talvez ainda faltasse mais um polo de dinamização cívica e cultural agregador. Já referi a revista, aberta à colaboração de estudantes, professores e eborenses de diferentes áreas.
Podia também falar-vos do ciclo de colóquios sobre o Portugal político e económico, onde participaram, entre outros, Lucas Pires ou Vital Moreira, passando por José Gomes Ferreira ou António José Saraiva, ao longo de mais de dois anos e sempre com a casa cheia de público da cidade, na maior sala do IUE, então confinado ao Colégio Espírito Santo.
Naquele imenso corredor confecionámos e comemos uma açorda como forma de protesto por não termos uma cantina. A AE seria ainda o ponto de confluência dos estudantes para nos juntarmos às muitas causas que preenchiam o quotidiano político e social de Évora.
A sede, então na Rua de Machede, 55, era local de encontro e de tertúlia dos muitos atores do Centro Cultural de Évora, então dirigido pelo “grande” Mário Barradas. Frequentada também pela grande maioria dos jovens médicos que tinham escolhido a província para trabalhar. Enfim, outra gente da cidade que ali conversava, debatia a vida da cidade e do país.
De lá saí muitas vezes alta madrugada, por motivo daquele ambiente de relações quentes, fraternas e solidárias. Dirigente associativo, nesse contexto fiz para sempre de Évora a minha cidade, sem ordem na escala daquelas onde estudei e intervim cívica e profissionalmente. E quantos outros, que o tendo vivido, já marcaram a trajetória da cidade e nela continuarão a participar ativamente?