Do nosso senador alentejano, o Professor Galopim de Carvalho, tomo esta metáfora por si várias vezes reiterada, para invocar a relação entre eleitos e eleitores, na independência partidária, por opção e prática, e que lhe é reconhecida, mas, obviamente, não apolítica: “o poder do feiticeiro, reside na ignorância dos seus amigos tribais”.
Sem qualquer espécie de comparação, que a sua sapiência e a sua experiência me impedem, também foi pela independência partidária que fiz o meu caminhar. A metáfora impõe uma reflexão sobre a educação institucionalizada ou sobre o papel da escola numa formação para a cidadania e a cultura política. Profissionalmente procurei dar o meu contributo, consciente desta relevância, e assumo que tenhamos ficado muito aquém do pretendido.
Sem negar esta missão e, obviamente, apoiando esta análise também certeira, a metáfora imediatamente me suscita uma outra consideração que não podemos deixar de fora. É sobre o que fizeram – e fazem os partidos – com os seus correligionários. “Sigam-me que eu sei o que é melhor para vós”, assim pensam e agem. Com verdades, meias verdades ou mesmo mentiras assim tentam convencer quem os segue, quase sempre encarreirando-os. E a coisa não é de agora.
Bem sei que a essência da democracia representativa e pluralista é a existência de partidos. E é por isso que escrevo e não por estar contra eles, mas pela sua saúde democrática, principalmente daqueles de que tenho a certeza de que são por ela e não a propalam apenas por manifesta conveniência.
É que no arregimentar das massas, na sua demagogia, controleirismos e quejandos, esqueceram o elementar. Quem segue assim, não precisa de condições, para se virar e seguir outros ao primeiro descontentamento, que se transforma em revolta e redun- da em raiva e ódio. E outros que até podem ser de polos opostos e que ainda mais porfiam nesta forma acéfala de querer amarrar seguidores.
Não faltam exemplos. Quem quer levar alguém atrás como se costuma dizer, não forma maneiras de pensar, muito menos esclarece e elucida, e de- senvolve consciências livres. Há sempre uma disciplina partidária que se impõe, mesmo quando se diz não se exigir formalmente.
Para além disso, esqueceram-se de que temos hoje mensageiros, ou fazedores de opinião, que iludem ou desiludem, ainda mais poderosos, como são os vídeos do YouTube e do TikTok, os impropérios das redes sociais à exaustão repetidos, disseminado- res da negação sob uma capa de avassaladora forma de certificação de verdades inabaláveis.
Escamotear esta escola alternativa, cada vez mais aí e a instituir-se, é um erro grosseiro de uns, mas usada sistemática e oportunisticamente por outros para os seus intentos partidários. E aí dão voz, quase sempre despudorada, aos seus seguidores, com estratégias bem conhecidas. Ou seja, exatamente aquela que outros, por regra, calaram ou não quiseram encontrar espaço e tempo para que se fizesse ouvir e ser escutada.