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Abílio Amiguinho (opinião): “A água no Alentejo, mais ao cimo”

Abílio Amiguinho, professor jubilado do Ensino Superior

Há tempos um casal representante de uma imobiliária, sabendo que eu vivia na Serra, abordou-me à procura de propriedades para vendas futuras. Queixavam-se que são muito poucas as existentes por aqui. Afirmavam que enquanto a procura tem vindo a diminuir no Alentejo daqui para baixo, aqui tem vindo a aumentar avassaladoramente e não há oferta.

A justificação foi deles, não minha. Eu amo o Alentejo todo. Mas, para eles, o que ocorre tem a ver como o clima. Aqui também aquece bem, e quase se torna tropical, assim como aparenta menor secura e exibe mais verde ou verde mais diverso. Li também nesta expressão um verde menos uniforme e bem diferente da monocromia dos olivais a perder de vista, ao mesmo tempo que o verde do montado de sobreiro e azinho vai sendo ofuscado.

Ainda perguntei pelo Alqueva nesta atratividade, mas não se quiseram manifestar. Numa coisa têm razão: no Alentejo, a Serra de São Mamede é o principal regulador pluviométrico e um inestimável mega recurso hídrico de que alguns parecem esquecer-se.

Tomem nota. Se do Pico, com 1025 metros, me virar a leste, o Rio Xévora, que nasce quase aos meus pés, entra em Espanha e irriga as ‘vegas’ até à La Codosera. Depois, com o Abrilongo, volta a entrar em Portugal e a trazer água àquela parte do concelho de Campo Maior. Pois… vai desaguar no Guadiana.

A sudeste nasce a Ribeira de Arronches, correndo Vale Lourenço abaixo, um ‘ex-libris’ ambiental, entre outros da Serra. É a principal afluente do Caia, ao qual se junta ali nas baixas da vila que lhe dá nome. A barragem que enche é a do Caia, o maior lago artificial antes do Alqueva. E as sobras correm para o Guadiana.

Volto ao Pico e olho a nordeste. Vejo o Sever, depois de uma das ribeiras que lhe dá corpo encher a Barragem da Apartadura, que resolveu de vez o abastecimento a Portalegre. Faz o nosso pequeno Minho entre montanhas às baixas de Marvão e dá razão aos que nos procuram para cá ficar.

A noroeste quase só passo os olhos pela Ribeira de Nisa e afluentes que também engordam o Tejo, principalmente quando os espanhóis o emagrecem a montante. Para me fixar, a oeste, e ver os regatos e ribeiros que escorrem da Serra e dão volume à Ribeira de Seda. Aquela de que se fala e quase se esquece que com a Ribeira Grande já enchem há muitos anos o Maranhão.

Fala-se porque vai ser ela que vai encher o projetado Pisão, dizem que para fins múltiplos. Certamente o agrícola, pois claro. Quanta inovação gostaria de ver neste plano. Haverá muitos que até conhecem o território a abranger melhor do que eu, e que provavelmente também acham isso. Estou mais certo ainda que, neste domínio, não quereriam um Alqueva em miniatura ou um Maranhão no seu pior, mais abaixo.

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