Tem cabelos grisalhos a ideia da sua construção. E na aceleração dos tempos em que foi envelhecendo, remontando à segunda metade da década de 50 do século passado, não lhe faltaram alterações várias como sucede a quem atinge tão proveta idade. Desde os chamados planos de fomento, em que os propósitos eram os que se conheciam, até ao aprisionamento em barragem das águas da Ribeira de Seda, para fins múltiplos.
Estes foram-se ampliando à vista de exemplos, de que o mais notado será o Alqueva, mas há outros mesmo sem sair do distrito de Portalegre, como são os do Caia que vi construir-se – e mais o que se disse e foi dizendo sobre ele -, Maranhão e Montargil. A Barragem do Caia, em ponto grande, creio ter tido por trás idênticos propósitos. Economia, agricultura, sociedade e política eram os parâmetros em que a escassa discussão publica se movimentava.
O ambiente era coisa de somenos e a ecologia era ciência que ainda cá não tinha chegado. A questão do ordenamento do território muito menos e só, de forma pioneira, campearia nas salas da Universidade, depois do Verão Quente de 75. Pelo menos na Universidade de Évora em que em cadeiras com o mesmo nome ouvi o meu respeitável professor Gonçalo Ribeiro Teles falar da necessidade de ponderar a quantidade de água que se perderia por evapotranspiração, na decisão sobre a construção do grande lago do Alqueva.
Confesso que andei dias a pensar naquilo e a transpor aquele dado de observação para outro grande lago que era o que o Caia já era na altura.
Como se sabe, antes que se invoque o raciocínio hipoteticamente irrisório do professor, é muitíssimo o que lhe devemos, e aos seus seguidores, na proteção ao ambiente em Portugal. Mas ficou-me desde logo que decidir a construção de uma barragem tornou-se algo de grande complexidade, acrescido do advento da democracia.
Ao que sei o Pisão antes de ser espelho de água tem sido o espelho disso. Para mal, para bem, não tenho resposta. Assim como também não tenho argumentos para ser completamente a favor ou empedernidamente contra.
Mas ver toda aquela água aqui da serra mais a que a ribeira apanhou pelo caminho, ir direita para o mar não fosse o Maranhão detê-la, enchendo perigosamente num só dia, como sucedeu em dezembro de 2022, causa-me uma sensação de esbanjamento de água quando vivemos à mingua dela.
Ah, o montado e afins que desapareceriam e tal… Precisamente a secura vai alterando a sua sustentabilidade e, embora a medo e com receio de infundada leviandade, é caso para dizer que morrem uns para bem doutros. O que permaneceria à sua volta haveria de beneficiar. A não ser que autorizassem o seu derrube, para plantar olivais a perder de vista, ou deixassem alguns exemplares no meio, para calar bocas, mas para terem o mesmo fim.
Tenho dificuldade em imaginar o afogamento da aldeia com o mesmo nome e nas muitas dúvidas quase digo não pode ser. Não sei se será necessário um “porra” para que se construa. Sei isso sim que não seja apenas para fins múltiplos mas para fins inovadores e claramente diversos. Temos exemplos que inegavelmente o reclamam e exigem.