“Vou ali à inauguração em reportagem, até logo ou amanhã, se já não te vir”, despediu-se ele do camarada. No meio jornalístico os colegas são assim, não existem, somos todos camaradas. Goste-se ou não, esta designação foi introduzida na língua portuguesa no século XVII, no meio militar, e só dois séculos e tal depois foi adotada entre os militantes de um (ou mais) partido político.
Pouco importa, aqui. Um insiste nessa nomenclatura, enquanto o outro, sempre contestando a posterior apropriação, refuta ok kapa. Diz “k”, em vez de camarada. “E não levas o computador?”. Não. Nem o ouviu perguntar, correndo pelo corredor, raspando-se para apanhar o comboio, como se apanha o metro de uma ponta à outra de Lisboa.
Aproveita-se a viagem para telefonar, para agendar mais uma entrevista, ou outra reunião por causa das assinaturas da Alentejo Ilustrado. É primordial aproveitar o tempo de trajeto e a sempre curta estadia, noutra localidade.
Na redação sozinho, quem ficou toca no teclado ao estilo de free jazz com preceitos de piano. Em ritmos desconcertados, ora escrevendo ora refletindo na estrutura do texto, na escolha do tempo verbal, aqui hesitando entre os sinónimos, ali rasurando alguns períodos, reescrevendo-os depois. Terei de ligar a confirmar a informação da fonte? Ou isto passa sem problemas? Confirma, confirma sempre, responde-lhe o subconsciente. Anos disto a fio e a mesma questão volta diariamente.
No dia seguinte uma entrevista em Arronches, no outro, outra em Lisboa com pessoal que de Portalegre se instalou na capital. Qual será a próxima capa da revista? Temos de falar mais de cultura, de agricultura, de empresas, de solidariedade. Temos de ter mais vozes, mais escrita feminina. Nas nossas páginas não entra o facilitismo das politiquices, nada de arranjismos.
E o alinhamento das peças (artigos), está feito? Como fazemos entrar um texto de nove mil carateres na área reservada para quatro mil? Chegaram as publicidades? Fechamos amanhã! E estes oito mil carateres sem um só parágrafo? Está muito bem escrito, mas fica uma mancha de texto horrível. Toca a alfinetar parágrafos.
A paginação vai-se fazendo, pouco a pouco, igual a um comboio em marcha lenta. Tem de estar na gráfica por volta das 11h00. Lá eles esperam, máquinas ronronando que nem gatos, prontas a fazer as provas de cores e a imprimir a revista. Depois é ensacar os exemplares que seguem pelos correios até aos endereços dos assinantes, as maiores resmas irão para Coimbra, onde a distribuidora semeará todo o Alentejo da fresquíssima Alentejo Ilustrado. Há mais de 12 meses que é assim. Um ano já passou.
Acham que a imprensa regional é menor, menos exigente que a nacional? Só quem não percebe nada da poda. E nós que dia após dia, semana após semana, aqui escrevemos, declaramo-nos híbridos. Umas vezes sem vagar, outras devagar, mantemo-nos livres para pensar e vos escrever. Na ténue esperança de receber mais uns assinantes todos os dias, deparando por vezes com a recusa de alguns, que deveriam estar ao nosso lado: do lado do Alentejo. Neste contexto nasceu e cresceu, a nossa Alentejo Ilustrado! Há mais de um ano, em sua casa, na empresa e em bancas por todo o Alentejo. Saiba-a folhear, acarinhar, ler.