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Alexandre de Barahona: “Um sorriso, vence mil preconceitos”

Editorial. Alexandre de Barahona (jornalista)

Portugal remigrou a essa sociedade incapaz de sonhar, onde se corre vivendo um dia-a-dia desesperado para ganhar um salário previamente hipotecado. Na aflição de pagar rendas de casas, prestações de carros, das exacerbadas faturas de eletricidade, do gás, enchendo aos bochechos os depósitos de gasolina e mais um sem número de coisas que nos iludem quanto ao longínquo nível de vida europeu. Cinquenta anos depois da Revolução do 25 de Abril, a emigração de novo assola os portugueses (sobretudo os mais novos) e o atraso que então tínhamos, continua, mais reduzido, mas continua acentuado.

As filas de pessoas com fome, o encapotado desemprego, a carência na habitação, o fosso na saúde, as pensões de 240 euros… Será uma sina nossa? Não. É o nosso condicionalismo. Traduz o amorfismo dos nossos políticos e a condescendência deste povo que somos, aceitando no encolher dos ombros os compadrios, a corrupção, o prosseguir no baixar da cabeça com receio de sofrer repercussões do vizinho, do patrão, do chefe… do padre.

Somos uma sociedade diferente de há 50 anos? Sem dúvida, felizmente. No entanto continuamos sem rumo, onde os planos de futuro se reduzem à construção de um aeroporto, ou ferrovias, iguais aos de há mais de um século atrás. Não somos sequer um país pequeno, somos uma pescadinha de rabo na boca.

Quanto ao Alentejo então, nem pescadinha somos. Somos antes uma espécie de búzio, do qual o bichinho migrou e por aqui somente ficou o invólucro, idêntico a um histórico monumento rememorando o passado.

Esta constatação não é derrotista, pelo contrário, é graças à coragem de olharmos nos olhos e dizermos “o rei vai nu” que transformamos os fados, construímos amanhãs, protegemos a democracia e a liberdade, sem as quais ninguém, ninguém quer mais viver.

Este facto da democracia e liberdade, é um dado adquirido, e não é pouco. Seria positivo que a direita o comemorasse, e não deixasse à esquerda o couto destas premissas.

Seria muito inteligente e em particular no Alentejo, que o 25 de Abril seja aceite como o foi, e cessassem de um e outro lado do espectro político, de confundir esta data de Abril com o processo revolucionário em curso (PREC), que lhe seguiu a partir de setembro desse ano. Foram e são “coisas” diferentes. Fazer disso uma amalgama, não ajuda nem a liberdade nem a democracia em todos nós.

Não, o Alentejo não está dividido entre comunistas e fascistas, isso são infantilismos que meio século passado, seria tempo de erradicar. Festejemos o 25 de Abril de hoje, porque o outro desapareceu. Para o bem ou para o mal. O bicho papão está em todo os lados, todas as paredes. Ele tem a face do nosso vizinho, parente, amigo. Saibamos estender-lhe a mão, e é possível que nos surpreendamos. Um sorri- so, vence mil preconceitos.

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