Alojamento local continua a crescer. Conheça três novos projetos

O alojamento local continua a crescer no Alentejo: desde o início do ano há mais meio milhar de unidades, mas o ritmo de crescimento abrandou face a 2023. Fomos ao encontro de três novos projetos para experienciar com vagar. Júlia Serrão (texto)

O nome dela inspirou o do alojamento local, que se completa com o do fruto produzido por Aurora Santos e Jorge Serafim. É deles o único pomar de marmeleiros do sul do país, e além de venderem a fruta criaram uma marca de produtos derivados do marmelo. Jorge Serafim explica que a mulher é “a grande entusiasta, fomentadora e ideóloga” da Casa Marmelos Aurora. Uma casa do centro histórico de Beja – que acolhe um T3, um T2 e um T0 – com características arquitetónicas muito interessantes, e um terraço comum com vista para a torre do castelo.

A decoração é depurada, com apontamentos vintage, e até os eletrodomésticos foram pensados ao pormenor para ganharem a cor dos marmelos quando estão maduros. Os muitos motivos alusivos ao campo, como as fotografias do pomar, seguem um propósito, já que o conceito é “ligar a cidade ao campo e o campo à cidade”.

Outro aspeto peculiar é o facto de não faltarem livros “alusivos ao Alentejo, de autores lusófonos e edições locais”. Influência de Jorge Serafim que é contador de histórias, comediante e autor, e pretende que o espaço seja também “promotor de outros fatores da região, nomeadamente na área da escrita”.

Pensado para pessoas “que valorizem espaços com muita personalidade”, a Casa Marmelos Aurora oferece o aconchego de excelência para desfrutar dos pormenores arquitetónicos e decorativos, e usufruir da área de leitura e da cultura da região, “num sitio muito bem localizado.” Os clientes são recebidos com um pequeno mimo “Marmelos Aurora, a Fruta do Coração”.

A ideia do negócio partiu justamente de Aurora Santos, que com o marido concluiu haver mercado para empreenderem, apesar do surgimento de vários alojamentos locais (AL) na cidade. Há quatro anos começaram a gizar o projeto. Compraram um primeiro edifício, que venderam, e compraram o atual que praticamente não precisava de obras. “Queremos que o alojamento corresponda às expectativas de quem nos visita e tenha uma grande lotação, pois é um prazer receber pessoas. E, claro, que se rentabilize, porque também é um negócio”.

A Casa Marmelos Aurora é uma das 500 novas unidades turísticas inscritas desde o início do ano no Registo Nacional de Alojamento Local (RNAL), número que reflete um “arrefecimento” face a 2023, quando surgiram 826 novos AL no Alentejo. Há agora 4510 unidades, das quais quase metade (2191) no Alentejo Litoral, incluindo as 818 do concelho de Odemira. No Alentejo Central estão registas 1128 unidades, seguindo-se o Alto Alentejo (698) e o Baixo Alentejo (493). Por município, depois de Odemira, é Grândola que apresenta o maior número de unidades de AL (627), seguido de Évora (370).

Criado em 2017, quando Susana Eugénio foi viver para Évora e se juntou ao irmão Miguel para pensar o projeto, o Zoetic abrirá por estes dias noutra rua da cidade. Mudou de edifício, mantém-se o conceito. Tendo os dois preocupações ambientais, decidiram criar um alojamento “sustentável, minimalista”, equipado e decorado com o reaproveitamento de materiais que seriam descartáveis, com o intuito de evitar o desperdício. O que não seria difícil, pois Susana gosta muito de bricolagem.

“As cabeceiras das camas e as mesinhas são feitas a partir de material que estava abandonado, madeiras, paletes, a que depois juntei um pouco de criatividade. Praticamente, só comprámos as camas e os colchões. Os lençóis não se passam a ferro, e as toalhas são de bambu e algodão”, explica Susana Eugénio. A resposta por parte dos clientes, sobretudo de uma maioria proveniente do norte da Europa, foi muito positiva, assegura a proprietária, convicta de que irá continuar a ser assim no novo edifício.

“Tentamos melhorar todos os dias, pelo que estou a voltar às minhas bricolagens para fazer mais coisas a partir do material reutilizá-vel, para compor o novo espaço. Como costumamos dizer ‘Zoetic is an ongoing project’ [Zoetic é um projeto em curso]”, sublinha.

Apesar da crescente oferta de alojamentos locais, a que também se têm juntado uma multiplicação de hotéis, Susana Eugénio diz que não hesitaram em dar continuidade ao negócio. O facto de alugarem quartos, coloca-os “fora de uma categoria e de outra”.

O Zoetic disponibiliza duas suites e quatro quartos, tem uma sala, uma cozinha, três terraços e várias áreas exteriores de lazer comuns a todos. Continuar a ter uma ocupação elevada, à semelhança do que teve ao longo de sete anos no edifício que fechou as portas em julho, é a expectativa de quem aposta num sector que, a nível regional, não tem parado de crescer.

Com impactos tanto na atividade económica, como no emprego, o AL representa mais de metade do orçamento familiar para quase 40% dos proprietários, refere um estudo da Universidade Nova, classificando este segmento turístico como um “motor da economia nacional”. Numa boa parte dos casos, a ideia passa por valorizar elementos diferenciadores para vincar a identidade do projeto.

O alquirkat, um antigo jogo de tabuleiro trazido para a Europa pelos árabes no século VIII, e que ainda hoje está representado em lajes espalhadas pela vila medieval de Monsaraz, inspirou o nome de um AL inaugurado em junho deste ano.

Tal como os jogos de tabuleiro, a Casa Alquerque é “um motivo para sair da rotina”, reforçar os laços e otimizar “a saúde mental e física”, comenta José Cabrita, que sonhou e concretizou o projeto com Carmen Oliveira. Ainda colocaram a hipótese de abrir um alojamento em Cuba, onde vivem, mas uma “oportunidade única” surgiu em Monsaraz, em 2017. E a unidade começou a ganhar forma.

A paisagem e os cerca de 300 metros quadrados de área da casa, que não estava totalmente abandonada mas exigia intervenção, foi o que mais impressionou o casal. Situada na muralha do castelo, a Casa Alquerque inspira-se na arquitetura árabe com o seu pequeno pátio interior: tem três suites, duas salas de estar e uma cozinha equipada.

Todo o alojamento é baseado no conceito de slow living: desacelerar, viver e apreciar o momento. “A decoração é minimalista e tem uma ligação aos objetos que vêm da natureza, como a madeira e o barro”, diz José Cabrita acrescentando que a casa “é um projeto imperfeito com paredes irregulares”, porque quiseram “seguir o modelo das casas antigas”. Do passado, mantiveram também as marcas da instalação elétrica nas paredes e nos tetos. No exterior, a grande protagonista é uma piscina de borda infinita, com uma vista soberba para o pôr-do-sol.

Apesar da enorme oferta de alojamentos locais, o casal está otimista. “Temos um espaço especial não só pela localização, mas também pela área e pelo projeto que idealizámos. Achámos que, desse as voltas que o mercado desse, teríamos sempre ali um espaço com potencial”, refere o proprietário, garantindo já estar a receber reservas para o verão do próximo ano.

MAIOR PROCURA

Com maior oferta de alojamento local, a procura tem igualmente subido. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), entre janeiro e julho deste ano as unidades de AL no Alentejo foram procuradas por 145.518 hóspedes, um aumento de 4,7% comparativamente como o período homólogo do ano passado, e de 21% com o de 2022. Neste segmento, e contabilizando apenas os empreendimentos com mais de 10 camas, o número de hóspedes representa 15% do total da região.

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