Antologia assinala centenário do nascimento do poeta Sebastião da Gama

“Por mim fora”, antologia poética de Sebastião da Gama, será apresentada em Estremoz no próximo dia 9 de novembro. Uma obra editada no âmbito das comemorações do centenário do nascimento do professor e do poeta. Ana Luísa Delgado (texto)

Chama-se “Encarcerar a Asa” e foi o último texto redigido por Sebastião da Gama em Estremoz, a 25 de janeiro de 1952. A 3 de fevereiro desse ano, o texto era publicado no “Brados do Alentejo”. Quatro dias depois morria o poeta, em Lisboa.

“Colaborou cinco vezes com o jornal, tendo publicado dois poemas e três crónicas”, assinala João Reis Ribeiro, ensaísta e especialista na vida e obra de Sebastião da Gama, que irá estar em Estremoz na tarde deste sábado, dia 9, para apresentar a antologia “Por mim fora”, de Sebastião da Gama, organizada pelo também poeta e professor Ruy Ventura, mestre em estudos portugueses pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Sebastião da Gama nasceu a 10 de abril de 1924 em Vila Nogueira de Azeitão. O centenário, que se assinala este ano, ficou marcado pelo lançamento de algumas obras: esta antologia, com 100 poemas e um ensaio, também “Sebastião, o Menino que Nasceu Poeta”, de Idalina Veríssimo com ilustração de Cristina Arvan, e “O Inquieto Verbo do Mar – Poesia Reunida”, com organização do próprio João Reis Ribeiro e que além dos nove títulos conhecidos inclui 80 poemas dispersos, publicados em jornais e antologias, e 280 poemas inéditos.

Não se pode, portanto, dizer que o centenário tenha passado despercebido, ainda que em Estremoz, onde viveu, pouco se tenha dado por ele. Além dos livros, a Associação Cultural Sebastião da Gama dinamizou uma série de atividades, incluindo conferências em Setúbal, com apoio do Município, num que se chamou “Ler Sebastião da Gama” e em que personalidades convidadas abordavam a obra do poeta.

João Reis Ribeiro destaca a presença nestas conferências de personalidades como Guilherme de Oliveira Martins, administrador da Fundação Gulbenkian, Carlos Reis, professor da Universidade de Coimbra, ou Alberto Manguel, escritor, tradutor e ensaísta argentino que fixou residência em Portugal.

“Têm sido levadas a cabo diversas iniciativas relacionadas com o Sebastião da Gama, que não têm tido talvez a visibilidade que obteria se fossem realizadas em Lisboa”, lamenta João Reis Ribeiro, destacando ainda uma outra conferência promovida pela Associação Portuguesa de Escritores e uma iniciativa dirigida às escolas no âmbito do Festival Fólio (Óbidos).

Foi pelo ensino que começou a ligação de Sebastião da Gama a Estremoz, onde viveu no 2.º andar do número 2 do Largo do Espírito Santo. “Em 1950 ele concorre para professor do ensino técnico. Tinha acabado o estágio nesse ano, concorre para variadíssimas escolas do país, de Viana do Castelo ao Algarve, e é colocado na então Escola Industrial e Comercial de Estremoz, que equivale hoje à Escola Rainha Santa Isabel”, acrescenta o ensaísta. É aqui que dá aulas entre 1950 e 1952, ano em que morre com apenas 27 anos.

“Ele era uma pessoa que se ligava muito ao meio e que se ligava muito às pessoas”, prossegue João Reis Ribeiro, sublinhando que em Estremoz, onde apenas viveu cerca de dois anos, “deu-se” com imensas pessoas. “Estou a lembrar-me, por exemplo, do Joaquim Vermelho, que escreveu muito sobre Estremoz, mas também da colaborações em vários jornais, designadamente no Brados do Alentejo”.

Foi na cidade que escreveu vários poemas, como “Janelas de Estremoz” (“Janela fecha- da,/ cortina corrida…/ Nem flor a perfuma,/ nem moça a enfeita”), crónicas, depois reunidas na publicação póstuma “O Segredo é Amar”, e registos diarísticos.

“O diário dele vive essencialmente do período do estágio, em Lisboa, entre 1949 e 1950. Teve depois intenção de o continuar, ainda que de uma forma mais dispersa, e lá se encontram várias referências à vida escolar em Estremoz”. O ensaísta sublinha ainda a relação entre Sebastião da Gama e José Régio, que por essa altura dava aulas em Portalegre. “O Sebastião da Gama foi visitá-lo e há uma crónica muito bonita sobre esse momento”.

Membro da direção da Associação Cultural Sebastião da Gama, João Reis Ribeiro conta que a antologia que será apresentada este sábado, “Por mim fora”, foi buscar para título um verso de um poema de Sebastião da Gama: “Meu caminho é por mim fora/ té chegar ao fim de mim/ a encontrar-me com Deus”.

DIMENSÃO HUMANA

Nascido em 1924 em Vila Nogueira de Azeitão (Setúbal), Sebastião Artur Cardoso da Gama licenciou-se em filologia românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1947, iniciando nesse ano a sua atividade como professor. Foi colaborador das revistas “Árvore” e “Távola Redonda”, afirmando a sua escrita “pela temática (amor à natureza, ao ser humano) e pela candura muito pessoal que caracterizou os seus textos”. Estreou-se nas letras com “Serra Mãe” (1945). Morreu aos 27 anos, vítima de tuberculose. A antologia lançada este ano, com o apoio dos municípios de Estremoz e de Setúbal, reúne numa primeira parte poemas de quatro livros de Sebastião da Gama, a que se acrescentam alguns inéditos, uma cronologia de João Reis Ribeiro e um ensaio, “Arqueologia da Poesia”, escrito por Ruy Ventura.

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