Natural de Murça, em Trás-os-Montes, onde nasceu a 7 de outubro de 1928, António Borges Coelho dedicou mais de seis décadas à investigação histórica e à escrita, deixando uma marca profunda na cultura portuguesa. Foi professor catedrático jubilado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e autor de uma obra vasta que atravessa a poesia, o ensaio, a ficção e o teatro.
A editorial Caminho, que lamentou a sua morte, recordou em comunicado “o percurso de vida caracterizado por uma intensa atividade política e académica, sendo considerado um dos mais prestigiados historiadores portugueses”. A mesma fonte indicou que o autor se encontrava numa unidade de saúde de apoio, onde estava a ser acompanhado na sequência de uma infeção respiratória.
Distinguido em 2018 com o Prémio Universidade de Lisboa, o historiador foi então elogiado pelo júri, presidido pelo reitor António Cruz Serra, pelo seu “singular percurso na historiografia portuguesa” e pelo “trabalho inovador”. O júri sublinhou ainda “a relevância do seu percurso científico” e o facto de ter sido perseguido “muitas vezes em circunstâncias adversas”, durante a ditadura, destacando “a grande erudição e acessibilidade da sua obra” e “o seu comprometimento com a cultura e a língua”.
Em 1999, Borges Coelho foi agraciado com a Ordem de Sant’Iago da Espada e, em 2018, recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. A sua bibliografia inclui títulos fundamentais como “As Raízes da Expansão Portuguesa”, “A Revolução de 1383”, “Portugal na Espanha Árabe”, “A Inquisição de Évora” e os sete volumes da monumental “História de Portugal”. Este ano, publicou ainda na Caminho a coletânea “Poemas”.
António Borges Coelho foi também um resistente político, preso e perseguido pelo regime do Estado Novo. A experiência da prisão não lhe retirou a serenidade nem a crença no poder libertador do conhecimento. “A História é uma ciência perigosa”, afirmou numa entrevista em 2018, reconhecendo a dimensão cívica do seu trabalho e a responsabilidade do historiador perante o seu tempo.
“Sou professor catedrático, pois sou, mas sou um cidadão normal e gosto de me sentir como um cidadão igual aos outros”, disse então, acrescentando sentir-se particularmente grato pelos tributos recebidos “quando organizados por amigos e pessoas sinceras”.
“Alegra-me quando as pessoas acham que fiz alguma coisa de útil”, declarou Borges Coelho, numa frase que resume com simplicidade a vida de um homem cuja obra ajudou a pensar Portugal — nas suas sombras, nas suas luzes e nas suas continuidades.
Texto: Alentejo Ilustrado/Lusa | Fotografia: Câmara de Évora/Arquivo/D.R.











