O que é que o levou a aceitar a presidência da delegação da Cruz Vermelha?
A aceitação do convite até foi fácil. Desde há algum tempo que tencionava dar um contributo à comunidade, tendo em conta que eu nasci cá, em Vila Viçosa, estive há algum tempo fora, voltei com o intuito de dar um contributo e procurar aumentar a qualidade de vida no concelho. Daí ter pensado que a Cruz Vermelha Portuguesa poderia ser uma boa ferramenta para intervir socialmente em Vila Viçosa. Já era voluntário, surgiu depois a necessidade de existir uma nova direção e aceitei esse desafio.
A tomada de posse foi recente…
… temos uma direção de cinco elementos, dois que transitaram da antiga direção, Lourenço Talhinhas e Eduardo Almeida, foi ele quem fundou a delegação e quem a presidiu até este ano. E trouxe comigo dois novos elementos, Maria Alexandra de Araújo, como vice-presidente, responsável por toda a parte social e especialista no envelhecimento ativo, e a Maria Vitória Pereira, que é a nossa tesoureira.
Há também aqui um desafio acrescido por suceder ao fundador?
Esse desafio é importante e é uma motivação, porque efetivamente há uma necessidade de honrar o legado e a obra que foi feita, que foi montar uma delegação numa vila pequena, já existindo uma em Estremoz. Efetivamente há um desafio de honrar o legado e, sobretudo, trabalhar para que ele não se perca. A delegação precisava de uma renovação, de uma nova dinâmica, foi esse o desafio que me foi colocado, trazer novas atividades e expandir o impacto social da Cruz Vermelha aqui em Vila Viçosa.
Quais são as principais áreas de intervenção?
Neste momento intervimos essencialmente no apoio social, na intervenção contra a pobreza. Fazemos mensalmente a distribuição de cabazes alimentares a agregados familiares carenciados, temos também serviços de aluguer de equipamentos técnicos de saúde para quem precisar, como cadeiras de rodas ou andarilhos, fazemos também a instalação dos serviços de teleassistência, um mecanismo importante da Cruz Vermelha no combate ao isolamento dos mais idosos. Quando nos é pedido vamos a casa das pessoas instalar os serviços para mitigar a situação de isolamento e contribuir para que haja um serviço de apoio em caso de emergência. Enfim, fazemos ainda a distribuição, além dos bens alimentares, de bens móveis, e temos um grande stock de mobiliários de todo o tipo, que temos de colocar em circulação pois existem pessoas que, mesmo não estando identificados dentro do limiar de pobreza, têm dificuldades, porque a crise e a inflação se agravaram e há necessidades permanentes a que podemos responder.
Quantas pessoas estão a apoiar?
Neste momento temos identificados, com apoio permanente, cerca de 15 agregados familiares, o que dará mais de três dezenas de pessoas. A que se somam os apoios pontuais, que têm vindo a aumentar, também ao nível dos bens alimentares. Além disso, fazemos também um trabalho importante de acolhimento de famílias refugiadas.
Já iremos a este aspeto. Pergunto se ficou surpreendido com a existência de tantas famílias que precisam de ajuda?
Conhecendo a realidade de Vila Viçosa como conheço, fiquei até surpreendido por outros motivos, acredito que haverá mais famílias a necessitar de apoio. Ou seja, os pedidos que nos chegam partem dos próprios agregados, mas persiste um problema de falta de diálogo entre as instituições e a comunidade… apesar das dificuldades, há muitas, muitas famílias que não pedem ajuda. Esse é um desafio que temos pela frente e que assumimos, o de chegar a cada vez mais pessoas.
Em particular os idosos?
A questão do envelhecimento é também muito importante, temos assistido a um envelhecimento muito grande da população, e uma das grandes apostas, que faz sentido tanto aqui como na sede nacional da Cruz Vermelha, é que Vila Viçosa comece a articular mais respostas sociais para um envelhecimento ativo, permitindo aumentar a qualidade de vida dos idosos. Temos um mês de mandato, estamos a repensar a atividade da Cruz Vermelha para aumentar o número de pessoas apoiadas. Seria muito bom se não fosse preciso apoiar ninguém…
… mas a realidade não é essa.
Não é, a realidade é que já apoiamos muitas pessoas, mas sabemos que há mais gente a precisar.
Vamos então ao caso dos refugiados, que tipo de apoio é dado?
O Programa de Apoio a Refugiados prevê um apoio durante 18 meses, comparticipado pelo Estado. É a Cruz Vermelha Portuguesa que tem celebrado esse protocolo com o Estado para acolher refugiados, e temos sempre tido a disponibilidade para os receber. O objetivo é que, passados esses 18 meses, as pessoas estejam integradas na comunidade, deixando de necessitar do apoio prestado.
Quantos casos estão a apoiar?
Estamos a apoiar três agregados familiares, seja em articulação com os agentes locais para conseguir casas para arrendar, com o centro de saúde, com o Instituto de Emprego para conseguir um trabalho ou com as escolas, porque temos alguns menores a frequentar os estabelecimentos de ensino. Todos os refugiados que temos, felizmente, conseguiram emprego. É um processo muito exigente, as necessidades são diárias, muitas vezes as pessoas não sabem nem português, nem inglês, e há as necessidades de vida corrente, o ensino, a farmácia, o trabalho, os documentos como a carta de condução ou outros.
Quando falamos de refugiados falamos de ucranianos?
Não, já recebemos pessoas provenientes do Paquistão, do Iémen, da Palestina, sobretudo de países do Médio Oriente e da Ásia.