PUBLICIDADE

Atrasos da Câmara de Évora estão a “defraudar” expectativas dos clubes

Entrevista com Daniel Galvoeira, presidente do Aminata Évora Clube de Natação. Ana Luísa Delgado (texto) Fotografia (D.R.)

Em entrevista à Alentejo Ilustrado, cuja segunda parte será publicada ao longo desta semana, o presidente do Aminata Clube de Natação, Daniel Galvoeira, diz que os atrasos nos pagamentos da Câmara de Évora às associações desportivas estão a “defraudar” as expectativas dos clube no que diz respeito aos projetos de investimento. Em causa, conforme noticiado pela nossa revista, estão dívidas de cerca de 100 mil euros da autarquia aos clubes, referentes ao contratos-programa de desenvolvimento desportivo.

No caso do Aminata, refere Daniel Galvoeira, todo o investimento realizado pelo clube em 2023 ainda está por contratualizar com o Município, só depois havendo lugar ao pagamento do reembolso. Por outro lado, boa parte do investimento feito em 2022 só agora foi pago. “Tudo isto”, constata, “cria ao Aminata um grande problema de tesouraria, todos os meses”, para pagar vencimentos aos funcionários e aos fornecedores. 

Qual o ponto de situação relativamente ao contrato-programa assinado pelo Aminata com a Câmara de Évora?

Ainda só contratualizámos o ano 2022. O ano 2023 haveremos de contratualizar agora, mas já temos investimento feito. Diria que temos 80 mil euros executados, a Câmara terá a pagar 85% desse valor. Mas só posso submeter as faturas relativas a essa despesa quando o contrato-programa estiver assinado. Qual é o problema essencial? É a burocracia da Câmara e a demora na aprovação dos projetos. Temos também a candidatura de 2024, cujo prazo terminou a 31 de março e ao qual concorremos. Estamos a realizar o investimento de 2024 ao abrigo dessa candidatura, e a mesma está em análise agora. Se for como nos anos anteriores, em que a análise demorou seis ou oito meses, diria que talvez no final do ano tenhamos o contrato aprovado. Se for como a Câmara regulamentou, com a aprovação no prazo de um mês e ida a reunião pública, estaria em condições de começar a ser executado em maio.

O que é que tudo isto, burocracia, atrasos, condiciona o clube?

Dou-lhe um exemplo: no plano de investimento para 2024 temos um equipamento grande para instalar, que custa cerca de 170 mil euros. Ora, não temos capacidade financeira para isso, para adiantar 170 mil euros sem ter uma previsão de pagamento da Câmara. Nem os bancos nos emprestam esse dinheiro. Portanto, qual é o impacto para nós e indo de encontro à sua pergunta: tivemos um aumento de dívida de curto prazo e médio prazo enorme. Nomeadamente a fornecedores, que andou, no máximo, à volta dos 120 mil euros. Com os valores que nos têm sido ressarcidos temos vindo a diminuir essa dívida, mas ainda está bastante elevada, à volta de 70 mil euros. Tudo isto cria ao Aminata um grande problema de tesouraria, todos os meses. Para pagar os vencimentos, o gás, a eletricidade, tudo a tempo. E ainda pagar a dívida que temos aos fornecedores. Portanto, neste momento, quem está a suportar o clube são os fornecedores de serviços, a quem por vezes não conseguimos pagar dentro do prazo, e os investimento, muitos dos quais nos têm ajudado facultando algumas condições de pagamento mais vantajosas.

Qual o investimento que o Aminata já fez até hoje?

Cerca de 200 mil euros.

Aceita as explicações da Câmara que justifica o atraso nos pagamentos com dificuldades de tesouraria?

Compreendo que a Câmara tenha problemas de tesouraria, talvez devido às restrições financeiras e ao endividamento que teve no passado, mas de qualquer forma tem instrumentos e facilidades no mercado que nós, as associações, não temos. Nomeadamente, no mercado bancário, de contratualizar empréstimos de curto prazo para fazer face a essas despesas. Entendo as justificações, até porque falo muito com a vereação e com o presidente da Câmara, mas de qualquer forma não é motivo. Acho que no ano de 2022 o investimento foi lançado tarde demais e executado em 2023. Em 2023 houve candidaturas até maio, depois uma segunda fase em dezembro. Estamos em abril de 2024 ainda sem pagamento do investimento realizado o ano passado. E, portanto, estamos aqui com um óbvio prejuízo para os clubes. Depois, estamos quase a meio do ano e a ver o que se sucede com as candidaturas. Se a nossa for aprovada coloca-se outro problema. Trata-se da instalação de um ventiladora e recuperadora de calor, cuja obra só pode ser feita no verão, que requer uma encomenda de um equipamento em Itália que demora um mês e meio a fabricar, que é feita à medida… bom, corremos o risco de até ter o investimento contratualizado, se estiver à espera do apoio da Câmara, passar o verão e não ter nada feito. É disto que estamos a falar. Os processos de decisão são muito lentos e os processos de reembolso financeiro também.

A expectativa que o Aminata tinha ao avançar com este projeto de investimento saiu de alguma forma defraudada?

Defraudada quanto às demoras de pagamento. Porquê? As faturas de 2022, que nos foram recentemente reembolsadas, tinham sido submetidas, da sua maior parte, em julho de 2023. O primeiro reembolso do investimento feito em 2022 aconteceu em julho de 2023, apenas 20 mil euros, numa altura em que já tínhamos muitos investimentos realizados. E fomos submetendo faturas,  fazendo pressão para o reembolso, mas só passados vários meses é que foi efetuado. Ora, qual é a associação sem fins lucrativos, como nós, que consegue fazer frente a estes encargos? Acho que até devia funcionar ao contrário, ou seja, a Câmara até deveria fazer adiantamentos aos clubes para começar a alavancar os investimentos e poderem concretizar os projetos com maior facilidade.

Partilhar artigo:

edição mensal em papel

PUBLICIDADE

Opinião

PUBLICIDADE

© 2024 Alentejo Ilustrado. Todos os direitos reservados.

Desenvolvido por WebTech.

Assinar revista

Apoie o jornalismo independente. Assine a Alentejo Ilustrado durante um ano, por 30,00 euros (IVA e portes incluídos)

Pesquisar artigo

Procurar