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Bem-vindos aos Artistas. Uma sociedade centenária que se reinventa

Fundada em 1860 por artesãos locais, para “dar voz aos talentos escondidos”, a Sociedade de Artistas Estremocense vive agora uma segunda vida. Projetos não faltam. Mariana Miguéns (texto) e Hugo Francisco (fotografia)

No coração da cidade de Estremoz há um refúgio de criatividade e expressão que floresce, criando um espaço “vital” para a comunidade. A Sociedade de Artistas Estremocense constitui um ponto de encontro para mentes criativas.

Fundada em 1860 pelos artesãos locais, surgiu para dar voz aos talentos escondidos. A Sociedade tem desempenhado um papel crucial ao longo de 164 anos de existência, tanto no apoio ao desenvolvimento artístico, como em oportunidades de exposição e num ambiente colaborativo entre artistas de todas as áreas criativas.

Sentámo-nos e conversámos com o atual diretor, João Ferro, que nos fez um balanço sobre o impacto que esta sociedade teve aquando da sua fundação, para que servia, quem a frequentava, quem apoiava, quem dela fazia parte.

“Na altura”, diz João Ferro , “num contexto social e económico que era predominante no país e que no Alentejo tinha a ver com uma agricultura de latifúndios, havia uma classe de média burguesia que em espaços próprios exercia ofícios, muitas vezes complemento dessa atividade. Carpinteiros, ferreiros, sapateiros, caldeireiros, barbeiros… eram ofícios que lhes permitiam alguma autonomia financeira. Eram apelidados de artistas”.

A finalidade da associação seria o convívio entre os sócios – é o que consta nos estatutos e numa outra alteração aos mesmos feita em 1933, estando o documento depositado nos arquivos da sociedade.

Segundo João Ferro, “é difícil responder a algumas perguntas, devido a uma grande falta de documentação, nos arquivos da associação, relativa aos primórdios da sua fundação. Será uma das tarefas a desenvolver pela nova direção com pesquisas no Arquivo Municipal de Estremoz e no Arquivo Distrital de Évora”. Trata-se de conhecer a história. Para, a partir daí, desenhar o futuro.

Atualmente, a associação conta com inúmeras atividades a decorrer – já houve bailes, exibição de filmes e apresentações de livros – e novos projetos em preparação. Como principais objetivos, o presidente da direção aponta o trabalho de restauro do edifício, terminando a renovação das janelas, bem como “levar a cabo a pintura do exterior do imóvel e dos espaços interiores, limpezas profundas do salão de bilhar, tornar o bar funcional, estabelecendo uma parceria para a sua exploração, para que possa estar aberto, favorecendo a fruição do espaço através do convívio”.

Outra aposta é encontrar parceiros, “principalmente entre os sócios, que se comprometam a promover aulas de música, dança, pintura, fotografia, entre outras artes ou ofícios, tornando a associação numa verdadeira Sociedade de Artistas, como também realizar encontros, tertúlias, conferências, palestras, lançamentos de livros, oficinas, exposições, exibições de filmes, concertos, promover actividades económicas, principalmente as do concelho de Estremoz”.

Os Artistas dizem-se ainda apostados em desenvolver pesquisas sobre a história da sociedade, tendo em conta que nos arquivos não existe documentação que vá até aos seus primórdios, bem como desenvolver candidaturas a financiamentos que permitam viabilizar as obras e ações de restauro do espaço, assim como a realização de iniciativas de cariz cultural e artístico.

“Penso que Estremoz não se esqueceu dos Artistas. Quem poderia esquecer este belo edifício situado num dos espaços mais icónicos de Estremoz, o Largo General Graça, junto ao Lago do Gadanha, propriedade da Sociedade, que dá nas vistas, principal- mente depois da pintura a que foi sujeito há pouco tempo? O mundo e a sociedade tiveram rápidas transformações que alteraram, de uma maneira muito peculiar a vivência das pessoas. E tal per- passou pelos Artistas”, acrescenta João Ferro.

A Sociedade proporcionou aos sócios, durante muitos anos, um salão de bilhar, jogos de matraquilhos e de pingue-pongue, um bar, uma sala de leitura e, uma ou duas vezes por ano, organizava os “célebres” bailes, sendo que o de Carnaval era uma referência na cidade.

“Tais ofertas começaram a decair e, aqui, penso que faltou aos vários corpos sociais, que antecederam os atuais, uma visão que adaptasse a Sociedade aos novos tempos. Sinto-me feliz. Estou rodeado por uma equipa que partilha os mesmos anseios, para que os Artistas venham a ser aquilo que todos idealizámos”, refere o presidente da direção.

Ainda segundo João Ferro, “é bom ocupar o que nos resta da vida em atividades que fujam à rotina da atividade profissional a que estivemos obrigados”. Dizendo sempre ter “gostado” do associativismo, vê os Artistas como “um desafio”, uma vez que a Sociedade “não podia morrer”. 

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