“Isto é o mote”, informa o arqueólogo Manuel Calado. “Fui às sortes naquele ano/ Em que Portugal mudou/ Não teve sorte, o magano/ E tudo o vento levou”. Dado o mote, com um burro ao lado, texto escrito no telemóvel que segura com a mão direita, Manuel Calado lá desfia versos e quadras onde não faltam referências ao “moribundo império colonial”, ao “país provinciano”, ao “tempo a branco e preto” que se vivia, pelo menos na televisão, até que a “bomba rebentou” e aquela geração “fez parte do furacão”.
Há o vídeo desse momento, gravado em Rio de Moinhos. E haverá um “postal sonoro”. Ou melhor, uma segunda edição deles. Serão 12 ao todo, depois de um primeiro conjunto (outros 12) ter sido lançado em setembro do ano passado. O projeto é da Câmara de Borba e da Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, o projeto de Tiago Pereira destinado a “documentar, valorizar e divulgar processos e práticas musicais e manifestações de carácter popular”.
Como a poesia popular, as décimas de Manuel Calado. Ou a “Senhora da Misericórdia”, cantada pela Tuna Sénior da Misericórdia de Borba, e também inserida neste conjunto de postais, tal como Dui MC, um artista da terra – “vimos do fundo da pobreza/ onde o tempo era riqueza/ onde o pai só pensava em ter pão e vinho sobre amesa” -ou a música de Lú, “Irmãos”, ela que para as gravações levou a filha bebé.
Ao todo, já se disse, serão 12 postais, que depois de impressos podem ser adquiridos no posto de turismo de Borba. Na parte da frente está uma paisagem ou um lugar do concelho, no verso um QRcode permite abrir, através do telemóvel, o vídeo gravado nesse mesmo local com um dos artistas da terra.
“É uma coleção para preservar o património e salvaguardar memórias”, sublinhou Sónia Dias, vereadora da Câmara de Borba, aquando do lançamento do primeiro conjunto de “postais sonoros”, cujas gravações se iniciaram na Orada, com o Rancho Folclórico Cravos e Rosas do Alentejo, incluindo depois poetas populares, fadistas, cante, a banda e o Teatro de Bonecos da Casa da Cultura da Orada.