Breno Teixeira: “Eu gosto é do verão”

A opinião de Breno Teixeira, escritor

Época em que os portugueses, cansados da neura diária, decidem que relaxar é juntar-se em massa e criar um caos épico nas praias do país. Se acha que está preparado para as férias, desengane-se! Isto não é uma fuga para o éden, mas sim uma aventura digna dos melhores filmes de comédia.

A viagem parece simples, não é? Basta entrar no carro e seguir. Mal se sai da garagem, se percebe que a viagem não vai ser tão pacífica quanto imaginamos. A estrada, que se atravessava rápido, transforma-se num estacionamento gigante e a única diversão é o locutor da rádio: “Trânsito intenso em todas as direções.” As crianças que brigam por coisas absurdas, como “quem viu primeiro a vaca utópica no campo”, fazem os pais se perguntarem onde foi que erraram.

Após uma eternidade, avista-se a placa mágica: “Bem-vindo à praia”, mas ainda tem o desafio maior, estacionar! Achar um lugar é um jogo onde as regras mudam a cada rua. Quando encontramos um lugar, mesmo que seja colado a uma rocha quase a ruir, damos graças a Deus e partimos para a segunda fase da missão: carregar tudo.

Olhando para as tralhas, parece que planeamos um acampamento de um mês no deserto. No caminho, o calor já pôs metade da família a ver miragens. “Olha, um lugar!” – diz alguém, mas ao chegar, é só uma ilusão causada pela sombra de uma gaivota. E pronto, lá está a praia: um campo de batalha colorido de toalhas, barracas e guarda-sóis que mais parecem cogumelos a brotar descontroladamente.

A areia, normalmente macia e convidativa, se transforma em um campo minado de castelos de areia e baldes. Ao tentar abrir espaço para a toalha, pedimos desculpa mil vezes: “Desculpe! Oh, era o seu bebé? Que fofinho!” Finalmente, deitados, tentamos relaxar, mas somos atingidos por um chapéu-de-sol voador, areia jogada por um fedelho que nem sequer é nosso e o clássico grito – “Olha a bola de Berlim aí, minha gente!” – bramido a todo o vapor, com aquele sotaque brazuca tão típico da região.

Chega a fome! Começa o real teste de paciência. A meta é encontrar um restaurante que não tenha de esperar mais de duas horas para sentar. No verão, “reserva” é uma lenda urbana, e “mesa livre” é algo que só existe em contos de fadas. Em vez disso, uma fila que lembra uma maratona. Esperamos a assistir batalhas nas esplanadas: mesas tão disputadas, que chegam a sentar-se uns nos colos dos outros, formando uniões rápidas para conquistar espaço.

Sentamos! Pedimos o prato do dia, tipo “à moda do chefe”. E quando o prato chega, percebemos que o peixe quase nos saiu caro, não pelo preço, mas pela luta com a espinha, que parece viva. Compensamos com um copo de vinho fresco, que desce como prenda dos deuses e faz esquecer que ainda temos de voltar, mesmo sem saber as coordenadas do GPS, para o hotel.

Mortos, com areia até onde não sabíamos ser possível, voltamos com um desfecho: férias são testes de sobrevivência e o prémio é poder contar histórias épicas. Nas próximas, repetimos tudo! Porque no fundo, férias à portuguesa são um bom caos de verão, e no fim, sempre podemos dizer: “Logo volto ao trabalho para descansar do frenesim das férias”.

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