Breno Teixeira: “O restaurante das ideias estranhas”

A opinião de Breno Teixeira, cronista

A sociedade é como um restaurante absurdamente excêntrico. No começo, servimos apenas uma sopa de legumes neutra, saudável e sem grandes controvérsias. Então alguém sugere um toque de frango. Ok, vamos lá, não é tão radical. Depois vêm carne vermelha, escorpiões grelhados e, sem perceber, estamos jantando grelhadinhos de dinossauro com molho de autoritarismo.

A Janela de Overton funciona exatamente assim: aquela faixa de ideias que a sociedade considera aceitáveis vai-se deslocando e o que era um absurdo ontem, hoje pode estar no prato principal. Algumas ideias nos fazem duvidar do cozinheiro, como a crença de que a Terra é plana. Sim, depois de séculos de evidências científicas, algumas pessoas decidiram temperar a realidade com um toque de delírio geográfico.

Argumentam que a NASA nos engana, que aviões fazem curvas indevidas para esconder os limites da Terra e que viajamos sobre um disco flutuante gigante. Tem até político querendo a volta da pena de morte, sendo que a execução é lançar o facínora pela borda da Terra. Essas ideias agora estão no cardápio do grande restaurante da internet, sendo servidas com uma pitada de conspiração.

Outro prato curioso que aparece no menu é a tese de que os imigrantes fazem mal à economia de Portugal. Essa receita é temperada com um caldo de medo económico, uma pitada de alarmismo e um toque de desinformação. No entanto, os números mostram que os imigrantes contribuem para a economia, ocupando empregos essenciais, trazendo inovação e impulsionando a diversidade cultural. Mas, na cozinha das redes sociais, essa informação às vezes é cozida até virar um prato de ressentimento mal temperado, servido com um molho de discursos inflamados sobre o sabor da segurança perdida.

O problema é que certos empregados de mesa insistem para que experimentemos “só um pouquinho”. Antes, algumas ideias estavam fora do cardápio aceitável, como aquele caldo de nostalgia fervente que promete “voltar aos bons tempos” (que ninguém sabe exatamente quais eram, mas aparentemente eram incríveis). Mas, com um cheirete de crise económica, um tempero de insatisfação geral e uma generosa porção de redes sociais, certos discursos que antes causavam arrepios agora são apresentados como o prato do dia.

O perigo? O menu pode continuar evoluindo até chegarmos a pratos mais refutáveis: “Democracia Defumada com Molho de Manipulação” ou “Liberdade ao Ponto com Crocante de Censura”. Alguns dirão que é só mais um movimento cíclico da política, enquanto outros já estão agarrados à mesa, preocupados com o que mais pode chegar.

Mas quer saber o lado positivo? O futuro também pode nos surpreender de maneira hilária. Quem sabe um dia estaremos elegendo políticos baseados em habilidades de dança e talento em stand-up comedy? Ou talvez a política seja substituída por um jogo estilo “The Sims”, onde cada cidadão pode votar diretamente no que deseja, e quem tomar más decisões será automaticamente expulso para uma ilha deserta sem wi-fi.

Até lá, seguimos ajustando essa tal Janela de Overton e torcen- do para que algumas ideias decidam pular pela janela em vez de entrarem sorrateiramente pela porta dos fundos. Afinal, ninguém quer acabar com um banquete de desinformação e fanatismo temperado com paranóia, né?

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