Bruno Ferreira desiste de museu em Beja bloqueado por entidades públicas

Bruno Ferreira, humorista e dirigente do Movimento Beja Merece +, anunciou o abandono do projecto que vinha desenvolvendo há vários anos com vista à criação de um espaço museológico no Centro Histórico de Beja. Em causa está, segundo o promotor, a sucessiva reprovação do projeto de obras por parte da CCDR Alentejo e do Instituto Público do Património Cultural (IPPC). Francisca Lapa (texto)

Através de uma publicação na sua página pessoal de Facebook, Bruno Ferreira explicou que o sonho de criar um museu dedicado à história recente da cidade e à figura de Mariana Alcoforado começou a ganhar forma há vários anos. 

O projecto contemplava também a valorização de outras figuras relevantes da antiga Pax Julia e pretendia ocupar um edifício devoluto no Largo de São João, entre a Rua Dr. Brito Camacho e a Travessa do Cêpo, onde funcionou outrora a discoteca Karas. O espaço museológico seria financiado com as rendas de três apartamentos e de uma loja comercial a construir no mesmo imóvel.

“Era, assim, de um complexo que se tratava este projecto: três apartamentos e um espaço comercial destinados a arrendamento, e um centro expositivo cultural financiado pelas quatro rendas. Tudo isto num edifício há demasiados anos devoluto na zona nobre de Beja, perto do Museu Regional, do Núcleo Museológico do Sembrano, do Teatro Pax Julia, e mesmo em frente à casa onde nasceu, e viveu durante 12 anos, Mariana Alcoforado. Não poderia desejar mais”, acrescentou.

Apesar de admitir que tanto a Câmara de Beja como a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Baixo Alentejo se mostraram recetivas à iniciativa, Bruno Ferreira aponta responsabilidades às entidades nacionais e regionais responsáveis pela gestão do património e dos fundos comunitários. “Mas eis que chegou a vez da CCDR Alentejo e do Instituto Público do Património Cultural. Estas entidades, que teriam como missão, justamente, o desenvolvimento do Alentejo nas suas diversas vertentes, apresentam-se como férrea força de bloqueio a este projecto”.

Projecto que foi sendo reprovado de forma repetida, com argumentos que o promotor considera arbitrários. “As alegações eram sempre diversas, fosse o CAE do projecto, umas vezes, as alçadas da arquitectura, outras, as janelas, os vãos, até mesmo o questionar de qual a utilidade do projecto, dando cada vez mais a nítida sensação que o mais importante era chumbar a sua viabilidade, fosse qual fosse o argumento”.

Bruno Ferreira assegura que tudo foi feito para cumprir os requisitos legais e técnicos exigidos, envolvendo equipas de arquitectos, arqueólogos e consultores especializados. Entre outras iniciativas, destaca-se a proposta de escavação arqueológica no local com a colaboração da professora Maria Conceição Lopes e o apoio de uma empresa de assessoria para a elaboração da candidatura a fundos europeus.

Perante os sucessivos impedimentos e com parte substancial do investimento já realizado, Bruno Ferreira optou por avançar apenas com a obra nos apartamentos do primeiro andar, deixando a componente museológica para uma segunda fase. No entanto, essa tentativa foi também inviabilizada por nova comunicação oficial. “Nem isso me foi permitido, e ontem recebi nova carta registada com mais uma infinidade de novas anomalias, entretanto detectadas, desta vez não pela CCDR Alentejo, mas pelo Instituto Público do Património Cultural, que inviabilizam o início das obras. Foi a gota de água”.

O humorista admite que a sua motivação se foi esgotando ao longo do tempo. “A motivação, por mais acalorada que seja, também se definha; também se esvazia.” E acrescenta: “Não é desistir, é perceber o contexto, e agir de forma inteligente”.

O projecto, que inicialmente teve o nome “Beja Mater” e mais tarde passou a chamar-se “Pax Pop”, fica agora em suspenso. “A CCDR e o IPPC levaram a melhor; já eu perco o sonho e o projecto de uma vida, que gostaria muito de levar a cabo para valorizar a cidade que tanto amo.”

Bruno Ferreira sublinha que a situação que vive não é única. “Na minha posição estão, que eu conheça, vários outros empreendedores que investiram no Centro Histórico, exactamente com as mesmas expectativas, precisamente com as mesmas dificuldades, originadas pela mesma instituição”. Após anos de luta, considera que talvez esses outros promotores, entretanto desistentes, “estavam certos”.

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