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Caminhadas, desbravando os Trilhos do Endovélico

Ali encurraladas entre o desporto e o lazer, as caminhadas são uma prática comum pela Europa fora. Melhor mesmo que descrevê-los, é escutar quem os descobre pelo Alentejo fora. Escritor e fotógrafo brasileiro a viver na região deixa-nos a sua visão.

Breno Teixeira (texto e fotografia)

Numa certa manhã de setembro, fui desafiado pela minha mulher a participar dos Trilhos do Endovélico 2023, em Terena no Alandroal. Esse evento, tradicional na região, permite aos participantes uma oportunidade única de explorar as belezas naturais e a rica história que envolve essa área do Alentejo. Aceitei, mas para participar apenas na caminhada de 10 quilómetros.

Com as suas muralhas, que contam séculos de histórias, o Castelo de Terena foi o cenário escolhido para o início desta jornada. Depois de ultrapassar uma subida íngreme até as imponentes muralhas do castelo, o grupo, formado por amantes da natureza e do exercício físico, encontrou a visão espetacular que a antiga fortaleza oferece, com torres majestosas e vistas panorâmicas da paisagem alentejana.

Ansiosos por desbravar os trilhos que levam o nome do antigo deus Endovélico [divindade céltica da Idade do Ferro venerada na Lusitânia pré-romana e cujo culto se difundiu pelo Império romano], associado à fertilidade e à proteção da terra, iniciamos a aventura com uma energia contagiante e os primeiros passos foram dados com uma mistura de antecipação e respeito pela natureza que se estendia a nossa frente. 

À medida que o grupo se afastava do castelo, os Trilhos do Endovélico revelavam-se, conduzindo-nos por uma paisagem diversificada que incluía colinas suaves, matas acolhedoras e ribeiras serenas.

O percurso, planeado ao detalhe pela organização do evento, proporcionou uma experiência enriquecedora, desafiando os participantes tanto fisicamente como mentalmente. Subidas e descidas ofereciam vistas espetaculares, enquanto descidas suaves permitiam momentos de contemplação e conexão com a natureza circundante. É verdade que alguns trechos do percurso, algumas subidas com inclinação mais acentuada, convidavam a desistência, mas a paisagem exuberante que nos envolvia servia de combustível para continuarmos. À medida que avançávamos, a história desdobrava-se diante nós. Ruínas antigas, testemunhas silenciosas do passado, pontuavam o caminho. Cada pedra e cada acidente contavam histórias de civilizações que deixaram sua marca na região ao longo dos séculos.

A interação entre os participantes não se limitou à contemplação silenciosa. Risos, conversas animadas e partilha de histórias criaram uma atmosfera de camaradagem ao longo da jornada. A trilha proporcionou não apenas um desafio físico, mas também uma oportunidade de construir laços e amizades duradouras.

Na chegada, no campo de futebol Terena, os participantes, agora cansados, mas cheios de uma sensação de conquista, confraternizaram durante um belo almoço de convívio e troca de experiências. O evento não apenas celebrou a beleza natural e histórica da região, mas também destacou a importância de preservar e valorizar esses tesouros para as gerações futuras.

Os Trilhos do Endovélico não foram apenas um evento desportivo; foram uma celebração da natureza, da história e da comunidade. Os participantes levaram consigo não apenas a experiência física, mas também as memórias partilhadas e a ligação renovada com a fascinante herança que o Alentejo proporciona a todos os que se aventuram pelos seus trilhos.

SABER MAIS

Percorridos em novembro, os Trilhos do Endovélico são uma prova de ‘trail running’ com organização da Associação Alandroal United e da Câmara de Alandroal, com o apoio da Junta de Freguesia Terena. A correr ou a caminhar, esta aventura convidou os participantes a “viajar no tempo através do vale sagrado do Lucefécit, percorrendo trilhos milenares com paisagens de uma beleza avassaladora, santuários pagãos, povoados fortificados com mais de três mil anos, pontes medievais e tantos outros lugares que julgavam só existir em livros de uma história longínqua”.

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