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Carlos Cupeto (opinião): “Alentejo sustentável?”

Carlos Cupeto, professor da Universidade de Évora

No início do passado mês de dezembro todos demos pela COP 28, a mais importante conferência global sobre o desafio da alteração climática, no Dubai, um dos lugares mais impróprios para o fazer. Mais uma vez, e sempre assim será nas conferências seguintes, “aos costumes disse nada”. 

A agonia da Terra, devido ao esgotamento de recursos e aos significativos e irreversíveis impactos nos seus ciclos naturais, é grande, real e, muito provavelmente irreversível. Como se isto não bastasse, a verdade não é assumida; pelo contrário, é disfarçada com “soluções” que não conduzem a qualquer mudança; fica tudo na mesma, porque é o incontornável para o modo de vida vigente. Alguns cientistas começam a admitir que uma mudança significativa do nosso modo de vida não é possível, e teria consequências ainda mais catastróficas. Assim, o enorme desafio que temos em mãos não tem solução única ou simples e exige, no mínimo, autenticidade. 

Na verdade, a receita, conhecida por transição energética, que nos soa bem e é necessária, é uma mudança radical e abrupta com consequências imprevisíveis; o modo de vida como não o conhecemos. Mesmo os mais otimistas, ou distraídos, se deram conta que nos últimos tempos, um pouco por todo lado, ocorreram algumas pequenas amostras do que acontecerá: ocorrências naturais nunca vistas, de natureza imprevisível, cada vez mais frequentes e com efeito mais significativo. Isto é, ocorrências a roçar o inimaginável. 

Como sabemos, Portugal, em particular o Alentejo, tem uma localização geográfica de grande exposição atlântica e tectónica particularmente sensível, ou seja, é um país de elevado risco. Sabemos que a Terra é finita e que todos temos direito a recursos e alimentos. Em 50 anos, a produção de carne aumentou 500% e ainda assim a fome é um flagelo em muitas regiões do mundo. Tudo se pode resumir numa só palavra: consumo. Consumir cada vez mais, com uma enorme intensidade, é um desígnio do nosso modo de vida, incapaz de suportar o conceito de “sustentabilidade”.

A verdade, escondida, leva-nos, à dimensão local. É aqui no Alentejo, na terra em que vivemos e no solo que pisamos, que tudo se decide. É neste espaço que, queira-se ou não, existem os recursos essenciais à vida, água, solo e ar. É também aqui, no Alentejo, que cada um de nós toma decisões que fazem a diferença. Todos temos o dever de participar ativamente num Alentejo sustentável onde se possa viver bem. 

Muito para além das escolhas pessoais relativamente ao modo de vida e consumo, há um enorme conjunto de práticas que temos de implementar insistentemente: semear água, no sentido de a armazenar, sobretudo favorecendo a infiltração; plantar solo, no sentido de o valorizar e conservar, designadamente com boas práticas agrícolas; espalhar árvores, isto é, arborizar o nosso território, no campo e no meio urbano. Acredito convictamente que o Alentejo pode contrariar, ou conter, o processo em curso de degradação da vida. Não podemos é ficar parados, ontem é tarde.

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