Carlos Cupeto: “Regionalização”

A opinião de Carlos Cupeto (professor da Universidade de Évora)

Em junho, Luís Godinho, diretor da Alentejo Ilustrado, defende em editorial a regionalização, concluindo que esta coisa não faz falta para nada, tal como ela é habitualmente entendida em termos institucionais. Tem razão. Já lá vão muitos anos que, contaminado pelos colegas da Universidade da Extremadura, fui um entusiasta da regionalização.

Nessa altura havia a Unesul (Associação Universidade Empresa do Sul), muito dinheiro investido em infraestruturas, meios e pessoas, e do lado de lá da fronteira, na Extremadura, a Oficina de Transferência de Informação (OTRI), um pequeno gabinete com duas ou três pessoas. O fim da Unesul pega bem com este tema da regionalização e um dia será escrito.J

á nessa época a Extremadura tinha, ainda terá, uma representação, um pequeno escritório, em Bruxelas. Alguma coisa impede o Alentejo de o ter? Começamos agora, com umas décadas de atraso, a falar de lobbing.

Nessa época, constatei que a regionalização funcionava bem na Extremadura, a informação chegava em primeira mão diretamente aos nossos parceiros e isso também nos beneficiava. Pela via de Lisboa sabíamos sempre muito mais tarde; algumas vezes, colegas de outras universidades nos telefonaram de Lisboa em busca do que “dizia Bruxelas”. Tenhamos presente que nessa época não havia “mundo digital”.

Entretanto o mundo não parou, as oportunidades passaram e nós, Alentejo, estamos como estamos, vergonhosamente mais pobres. O diretor concluiu que afinal a causa não é pela ausência da regionalização, é pela nossa atitude, a incapacidade de fazer o que devemos. Falta atitude, aquela pequena, grande coisa, que faz uma enorme diferença. Se não fomos capazes de fazer o que devemos, por que razão é que o faremos com a regionalização?

Como escreve Luís Godinho, nada nos impediu ou impede de fazer coisas boas. A pergunta pode e deve ir um pouco mais longe: somos incapazes de o fazer, ou não queremos?

Naquela época, pouco tempo depois o meu entusiasmo esvaneceu-se e no dia em que votámos votei convictamente “não”. Constatei que não tínhamos localmente pessoas capazes de levar por diante um governo regional que criasse riqueza e desenvolvesse o Alentejo. Passados quase 40 anos os factos provam-no e empurram-me para o “não queremos”.

Há pouca gente, menos gente capaz, e um forte propósito para ser assim, para nada mudar. Só assim podemos ser o que somos e como somos. Só na pobreza podemos reclamar, gritar e fazer vingar a ideologia que nos virá salvar, mas que Lisboa e Bruxelas não deixam. A ameaça é a mesma como há 50 anos, a receita igual e o resultado sem diferença. Pode ser diferente? Não.

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