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Cátedra para proteger o montado

Todos os anos perdem-se cinco mil hectares de montado. Para contrariar este declínio, a Universidade de Évora constituiu a Cátedra do Solo, em parceria com uma empresa agrícola.

Ana Luísa Delgado (texto) e Cabrita Nascimento (fotografia).

A investigação em práticas regenerativas do solo, em particular nos sistemas de montado, mas também nas áreas de produção de cereais e nos sistemas agrícolas e pastoris, é o objetivo central da Cátedra do Solo, agora constituída pela Universidade de Évora em parceria com a Bovicer, empresa proprietária da Herdade da Parreira, entre Arraiolos e Montemor-o-Novo.

“A Cátedra”, explica Teresa Pinto Correia, diretora do MED – Instituto Mediterrâneo para a Agricultura Ambiente e Desenvolvimento, “resulta da intenção do proprietário [da herdade], com o qual colaboramos há muito tempo e que pratica agricultura de conservação”. Uma aposta que lhe permitiu obter “resultados muito positivos”, criando “melhores condições dos solos”, de que resultou “o aumento da produtividade e da qualidade da pastagem”, além de uma “melhor capacidade” de retenção de água.  

“Sem o solo não conseguiremos mitigar as alterações climáticas, o que significa que sem investir no solo não alcançaremos a sustentabilidade ambiental e social que tanto almejamos. O solo deve ser o nosso Norte”, resume Nuno Marques, o gestor da Bovicer. 

Com financiamento assegurado para os próximos cinco anos, a nova Cátedra estará focada “no estudo do solo e na promoção da agricultura de conservação, assegurando a recolha, organização e análise dos dados e dos respetivos trabalhos”, ao mesmo tempo que “contribuirá para a formação de investigadores especializados em métodos de regeneração da saúde do solo no contexto da região Alentejo, assim como de empresários e técnicos”.

É um trabalho importante, acrescenta Teresa Pinto Correia, desde logo porque o montado “há muito tempo que está em declínio”, com a “perda” de milhares de hectares. “Isso acontece com a maioria do montado, normalmente por declínio do coberto arbóreo e isso também está associado a más condições do solo, ou seja, a terem-se implementado práticas de gestão do solo que danificam o sistema, ou que o fazem o sistema perder a sua vitalidade”.

A investigação destina-se também a “transferir conhecimento e formar os produtores”, o que a diretora do MED diz decisivo pois “se conseguirmos ter mais produtores a cuidar melhor do solo, a tê-lo com a grande prioridade do seu modelo de negócio”, então “provavelmente teremos uma melhor saúde do montado, porque teremos árvores com maior vitalidade, teremos melhores pastagens e o sistema tornar-se-á mais produtivo”.

A meta, sublinha, é conseguir “dar melhores condições para o renovo das árvores jovens”, permitindo o surgimento de “mais rebentos e que eles possam ter mais vigor”, para o que será necessário melhorar a capacidade de retenção de água, o que é igualmente benéfico para as árvores, sobreiros e azinheiras, já instaladas.

“O solo é a base do ecossistema. Portanto, se nós conseguirmos melhorar o solo, conseguiremos um sistema produtivo mais resiliente. É isso que estamos a esperar que aconteça”, sublinha Teresa Pinto Correia, lembrando que, anualmente, se “perdem” cerca de cinco mil hectares de montado. “Não é porque seja cortado ou substituído, também acontecem incêndios e também há substituição de áreas de montado por plantações intensivas de olival ou de amendoal, mas isso é uma muito pequena percentagem. A grande maioria da perda de área de montado é por clareiras que se vão formando, árvores adultas que se tornam decrépitas, sem renovação, sem novas árvores a crescer, e a um determinado momento já não há regeneração possível porque já não há árvores”, explica.

Já a reitora da Universidade de Évora, Hermínia Vilar, considera que o envolvimento de parceiros privados no desenvolvimento de projetos de investigação “é muito relevante, não apenas pela questão do financiamento, mas sobretudo porque permite encontrar respostas aos problemas com que o território lida, colocados por quem está diretamente ligado a eles, neste caso à exploração do solo”.

Além da nova Cátedra dos Solos, a Universidade lançou também o denominado “Laboratório vivo para a regeneração do montado”, através de uma colaboração com 21 produtores, que disponibilizam, durante 10 anos, um total de cerca de 30 parcelas, em várias zonas do Alentejo, onde serão testadas novas soluções que permitam preservar este ecossistema.

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