Centro interpretativo promove vinho de talha e atrai turistas

O Centro Interpretativo do Vinho de Talha é um espaço de interpretação, de difusão científica e tecnológica e de divulgação do património imaterial relacionado com o saber-fazer deste produto ancestral.

Localizado em Vila de Frades , este equipamento tem como missão transmitir aos visitantes as memórias, as vivências e as experiências relacionadas com o vinho de talha e com as gentes que ciclicamente fizeram chegar esta tradição aos dias de hoje. Durante a visita, somos convidados a descobrir cheiros e aromas, os sons da vinha, as paisagens do concelho de Vidigueira, os provérbios e o cante que, em conjunto, formam a alma do vinho de talha, marca identitária do povo do concelho de Vidigueira. Apesar de ter aberto em plena pandemia contabiliza mais de cinco mil visitantes e espera muitos mais para descobrir este saber fazer com sabor a tradição. 

“O objetivo do centro é preservar e valorizar o saber-fazer do vinho de talha, para dar continuidade a esta tradição milenar que é uma atividade importante para a economia do concelho”, afirma o coordenador do centro, Carlos Cristo. Mas como isso é feito? É dado aos visitantes um conhecimento geral sobre a tradição de fazer vinho de talha, uma prática de vinificação típica do Alentejo, que foi criada há mais de dois mil anos pelos romanos.

O Alentejo tem sido o “grande guardião” do vinho de talha e tem sabido preservar esta prática de vinificação em grandes vasilhas de barro, conhecidas como talhas, que foi passada de geração em geração, “de forma quase imutável”.

Carlos Cristo salienta a importância que o vinho de talha tem para a economia local por ser um produto que “vem marcando a paisagem, ponteada por vinhedos desde o período romano… ”. Contudo, não há apenas uma forma de fazer este tipo de vinho, já que a produção varia ligeiramente consoante a tradição local. Segundo a forma mais clássica, que “pouco mudou em mais de dois mil anos”, as uvas esmagadas são colocadas dentro de talhas e a fermentação ocorre espontaneamente.

Evidenciar todas estas particularidades do saber fazer é o que é pretendido com este centro interpretativo que visa a difusão científica e tecnológica, bem como a divulgação do património imaterial associado ao vinho de talha. De acordo com o coordenador do centro, este surgiu da “necessidade de preservar” o ancestral saber-fazer vinho de talha, que, norteado pela simplicidade dos recursos técnicos usados, manteve-se vivo desde a ocupação do território pelos romanos até à atualidade.

Instalado num edifício que o município construiu de raiz no centro de Vila de Frades divide-se em quatro áreas, nomeadamente o Território, a História Milenar, a Cultura da Vinha, o Processo do Vinho na Adega e a Taberna. A partir destas áreas, foi criada uma narrativa cronológica e sequencial que conta a história do vinho de talha, dos tempos dos romanos à atualidade, percorre o ciclo produtivo, começando pela cultura da vinha no campo, passando pela produção nas talhas nas adegas e terminando numa taberna, onde é possível provar o famigerado vinho de talha. 

Carlos Cristo especifica que, num primeiro momento, é feito o acolhimento ao visitante, onde se realiza uma integração e contextualização do território no qual se encontra e é dado o primeiro contacto com o vinho de talha.  “Recorremos cronologicamente ao período romano para perceber que temos fortes indícios desta prática, isto com a mostra de grainhas encontradas em escavações romanas nas ruínas arqueológicas de São Cucufate, mostrando-se o material museológico e de cariz etnográfico”, acrescenta Carlos Cristo.

De seguida, é hora da mostra da cultura da vinha, desde o plantio, poda, tratamentos fitossanitários através de fotos e documentação de arquivo e fotos atuais. “O foral atribuído por D. Manuel em 1512 revela o peso que este vinho tinha já para a economia neste tempo, uma vez que determina os impostos a pagar”, sustenta. A vindima é igualmente evidenciada porque é a fase anterior até as uvas chegarem à adega para serem esmagadas e colocadas nas talhas. 

O responsável considera que o centro interpretativo “é uma verdadeira lição de história que conseguimos contar”. Foi criada uma aplicação específica para que o visitante possa fazer a visita recorrendo a realidade aumentada que tem também uma voz-off que faz a narração de conteúdos e, em simultâneo, permite que possa navegar por mais informação para além da que está colocada nos painéis textuais, podendo recorrer a vídeos, áudios e mistos de experiências sensoriais que o visitante pode obter. E adianta: “Também os mais novos não foram esquecidos e têm à sua disposição tablets que contém um jogo mediante a temática dos espaços que visitam”. 

Tal como as qualidades de um vinho, “o centro desperta sentidos”, já que o visitante é convidado a descobrir cheiros e aromas, os sons da vinha, as paisagens do concelho de Vidigueira, os provérbios e o cante, que, em conjunto, “formam a alma do vinho de talha”.

A visita ao centro interpretativo termina na taberna, onde é possível ou não fazer uma prova, consoante o ingresso adquirido. “O centro acaba por ser uma plataforma que faz a ligação aos produtores e às adegas tradicionais que fazem vinho da talha. Significa isto que com este périplo, o visitante sai munidos de todas as ferramentas para descobrir e visitar outros locais fora do espaço interpretativo que valorizam este saber fazer tão caracterizador deste território. 

O município da Vidigueira reforça a promoção do território, de forma a criar oportunidades de desenvolvimento, inovação e progresso no concelho, contando para isso com as parcerias da adega Cooperativa de Vidigueira, Cuba e Alvito no apoio técnico e cedência de matéria prima para a produção do primeiro vinho de talha do centro interpretativo, mas também de todos os que, persistentemente, se dedicam à produção do vinho de talha e que, passando de geração em geração, mantiveram viva esta tradição.

Aberto em plena pandemia, este centro implicou um investimento de 600 mil euros, financiado por fundos comunitários e verbas do município e permite, segundo Carlos Cristo, a a vivência de “um passado vivo” que está “presente à mesa”, ligado ao cante alentejano, aos petiscos e ao convívio, “perpetuando uma identidade que continua enraizada” em Vidigueira. 

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